domingo, 20 de outubro de 2013

Cinema, Livro e Psicanálise



Pelos Olhos de Maisie
(What Maisie Knew)
EUA
Janeiro de 2014 (estreia prevista nas salas de cinema)
Dirigido por Scott McGehee e David Siegel

Sinopse do filme:
‘Em meio ao conturbado divórcio dos pais, Maisie (Onata Aprile), uma garotinha de sete anos, tenta entender o que se passa. De um lado a mãe, Susanna (Julianne Moore), uma estrela do rock. Do outro o pai, Beale (Steve Coogan), um influente galerista. Unindo os dois, a menina, que logo descobre um novo significado para a palavra "família"’.
(Fonte: Adoro cinema)

Sinopse do livro (autor Henry James, 1897):

‘A separação de seus pais gerou uma situação inusitada para Maisie. Apesar de a guarda ter sido concedida ao pai, acabou sendo estabelecido que a menina ficasse com os dois. Dividida, Maisie vira um joguete na mão do casal e, aos poucos, expõe os contrastes, entre virtudes e defeitos, entre inocência e cinismo, de ambas as partes, ao mesmo tempo em que descobre um modo próprio de ver o mundo. A personagem está num lugar privilegiado para Henry James contar esta história admirável, feita de objetividade narrativa, observação detalhada e sutil ironia. Maisie já não é criança, mas ainda não é adulta. Situa-se ao mesmo tempo dentro e fora da trama. Por isso, sua vida ilumina e desvela costumes, princípios e fraquezas de uma família desagregada e de uma sociedade movediça’.
(Fonte: Submarino)

Comentários:

Maisie é uma garotinha sensível que ensina muito aos seus pais neste delicado filme, que faz uma bela reflexão sobre o comprometimento afetivo e a responsabilidade do ‘cuidar’ de uma criança. Pelos ‘olhos’ desta menina, sentimos toda a aflição de quem fica entre pais que olham muito mais para suas vidas do que para a da filha. O que é depender de um outro ‘insuficiente’? Para que serve um quarto cheio de brinquedos, mas vazio de afetos? E os presentes dos pais compensando suas ausências? Os atrasos na entrada e saída da escola? Sabemos da importância do educar e da proteção que uma criança necessita para se desenvolver e se estruturar emocionalmente, inclusive pela influência dos pais ou cuidadores(funções materna e paterna). Mas, a menina do filme pouco chora, precocemente percebe que está em apuros e vai se adaptando as mais variadas situações e conflitos. Felizmente consegue também estabelecer relações mais favoráveis com outros adultos, que possibilitam que ela volte a experimentar as alegrias de ser criança.

Fica a dica do filme e do livro sobre as complexas relações familiares!

Vanessa M. da Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Pensamentos e Reflexões



Por que o futebol encanta?




Algumas mulheres não conseguem entender porque os homens se encantam com uma partida de futebol. Para elas se trata apenas de jogadores correndo em um gramado atrás de uma bola. Muitas desconhecem com precisão as regras, mas todo mundo reconhece um gol! Há também as apaixonadas e entendidas e até as jogadoras profissionais, claro; existem também homens que não gostam, mas isso é raro.... Mas aqui quero falar sobre um enigma que acompanha o cotidiano do brasileiro e de maioria dos latino-americanos.
O futebol provoca ódios e amores, ou seja, paixões.
A linguagem do futebol pode ser nossa bússola já que inclui as palavras: defesa, ataque, passe, drible, falta, jogador, juiz, time, estádio, entre muitas outras.
Estas palavras lembram metaforicamente situações da nossa vida real.
Talvez por isso este esporte apaixone multidões.
Ao longo dos 90 minutos ou mais, os espectadores torcem e sofrem pelo seu time. Acompanhar uma partida acende a paixão pelo jogo e pela vida. Interessante porque em poucos segundos pode se passar da felicidade à tristeza, da ira à ternura, do companheirismo à violência.
Acredito que as pessoas projetem no jogo seus próprios anseios: ganhar, perder, lutar, se esforçar, brilhar, trabalhar em equipe, ser punido, esperar são verbos que conjugamos no dia-a-dia: na família, no trabalho, na escola, em casa.
O que mais chama a atenção é a fugacidade dos bons momentos que o futebol oferece. Como na vida um gol dura segundos, um passe mal dado pode causar graves problemas, não se defender pode fazer-nos cair. Como na vida, durante o jogo podemos ser desleais, mentir, fingir, sacanear o outro, até ser agressivos e violentos. Porém, o que encanta é o drible, a luta, a tenacidade e a insistência por colocar a bola na rede, ou seja, por alcançar nosso objetivo.
Nosso objetivo, contudo, não é vencer um jogo: é viver! Vencer os desafios, as dificuldades, doenças etc. faz parte, mas o que mais gostamos é mesmo VIVER!!!

Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do LIEN- Clínica e Assessoria

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Cinema e Psicanálise


OS SABORES DO PALÁCIO
(Les saveurs du palais)
Direção: Christian Vincent
França, 2013.

Sinopse:

Hortense Laborie (Catherine Frot) é uma respeitada chef que é pega de surpresa ao ser escolhida pelo presidente da França para trabalhar no Palácio de Eliseu. Inicialmente, ela se torna objeto de inveja, sendo mal vista pelos outros cozinheiros do local. Com o tempo, no entanto, Hortense consegue mudar a situação. Seus pratos conquistam o presidente, mas terá sempre que se manter atenta, afinal os bastidores do poder estarão cheios de armadilhas.
(Fonte: Adorocinema)

Comentários:

Deliciosos pratos da culinária francesa desfilam pelo filme. Apesar da preferência por uma cozinha trivial, com certo apelo familiar, é um filme de aromas requintados. A Chef consegue sensibilizar o presidente (Mitterrand), pois ele resgata lembranças preciosas de sua infância através de sua culinária. A Chef em questão é uma mulher perfeccionista, exigente e temperamental. Não a toa ela é convidada para desempenhar tão importante papel, o de cuidar com exclusividade do cardápio do presidente. Mas, ela se depara também com outros desafios, como as burocracias do palácio e o de transitar em uma cozinha predominantemente masculina de chefs, que se incomodam com a sua presença, dificultando seu trabalho. Mas, como seu exclusivo objetivo é agradar ao paladar do presidente, ela não mede esforços para isso. Muda toda a estrutura da cozinha, trazendo seus próprios utensílios (e desprezando os requintados aparatos), contratando um único assistente e se utilizando de seus fornecedores, com produtos de alta qualidade. Ela consegue reunir bom gosto e simplicidade em sua função, deixando sua marca.
Um filme que cabe muito bem ao mundo corporativo, diante da superação das contrariedades, pelas suas convicções e por concluir seu projeto de forma exemplar. Mas, como tudo tem limites, em um determinado momento ela tem que sair de cena e deixar tão prestimoso cargo. O filme acompanha duas fases bem distintas de sua vida, na França e na Antártida. Nesta última fica evidente a admiração de quem a cerca, pois ela é homenageada de forma afetuosa.
Persistência e determinação parecem ser a chave do sucesso nesta história baseada em fatos reais.

Fica a dica deste filme cheio de propósitos!

Vanessa M. da Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

quarta-feira, 14 de agosto de 2013



Infância e Educação


Convido você a ler reportagem sobre o funcionamento do cérebro na adolescência.
A contribuição consiste em compreender que existe um imediatismo no adolescente associado à necessidade urgente de obter prazer.
Neste sentido, o desafio é o trabalho com o adiamento do prazer, as trocas e a convivência com as frustrações.

Boa leitura,

Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do LIEN Clínica e Assessoria





O cérebro do adolescente
13/08/2013


Artigo da Neurologista da Infância e da Adolescência Dra. Saada R. S. Ellovitch



Todos sabemos que a adolescência é um período de grandes transformações físicas e emocionais próprias do desenvolvimento do corpo e do cérebro. Este período é caracterizado por decisões sub-ótimas e ações associadas ao aumento de possíveis comportamentos não intencionais, com consequências muitas vezes para o resto da vida do indivíduo e sua família: envolvimento em acidentes, violência, exposição ao uso de drogas lícitas e ilícitas, gestação indesejada e doença sexualmente transmissível.

Gastam a maior parte do tempo com seus pares, outros adolescentes, fisicamente ou virtualmente, ficando menos tempo com adultos. Apresentam frequentes conflitos com os pais.

O alicerce do desenvolvimento cognitivo é a habilidade de suprimir pensamentos e atos inapropriados a favor de ações direcionadas a metas, especialmente na presença de incentivos irresistíveis. Isso significa que um bom investimento futuro é desenvolver desde a infância , desde a pré escola, a tolerar frustrações, controlando impulsos e adiar recompensas. Pois é, “engolir sapos” e não ganhar tudo que quer faz parte do treinamento.

Existem muitos mitos sobre o funcionamento do cérebro do adolescente, que os avanços da neurociência e principalmente da neuroimagem funcional têm recentemente sido esclarecidos.

SÓ EMOÇÃO E BUSCA PELO PRAZER IMEDIATO

Ressalto que o adolescente apresenta como característica comportamento de maior exposição ao risco, grande reatividade emocional e menor planejamento e controle de suas ações. O conhecimento da neurociência atual comprova o que a experiência de nossos antepassados já conhecia na prática. Na adolescência primeiro se desenvolve, ou amadurecem as áreas responsáveis pela emoção. Isso está associado a diferentes trajetórias do desenvolvimento de regiões límbicas subcorticais nesta idade (áreas da emoção). Caminhando para o final da adolescência e idade adulta ocorre progressiva mudança de controle para a região cortical, mais precisamente o córtex pré-frontal (área da razão), responsável pelo controle cognitivo e funções executivas. Corresponde a desenvolver planejamento e execução de seus atos em direção a cumprir metas.

Até ratos e chimpanzés adolescentes se arriscam mais e vivem à caça de novidades e prazeres.

O controle do cérebro do adolescente vai de baixo para cima, das regiões subcorticais para o córtex: prazer aqui e agora, custe o que custar. O adolescente não antevê consequências, mas não podemos dizer que não tenham fé. Sempre acham que suas atitudes intempestivas vão dar certo.

Dizer para o adolescente estudar, para ter um emprego melhor no futuro ou mesmo estudar diariamente para chegar no final do ano e passar de ano para ganhar computador novo, fica difícil de ser atingido. Eles precisam ter a recompensa rápida. Seu cérebro é movido pelo aqui e agora. Prazer já! Mais gostoso ficar no ipad.

O controle do adulto “maduro”acontece de cima para baixo, do córtex pré-frontal, responsável pela razão, predominando sobre as regiões subcorticais, da emoção. Progressivamente ocorre amadurecimento no sentido de desenvolver maior eficiência no controle cognitivo, com melhores tomadas de decisões e modulação do afeto.

RECOMPENSAS POR MÉRITOS

Fica mais efetivo descobrirmos seu maior prazer, que geralmente são o acesso às “telas”: tabletes, iphone, computador e TV, para fazermos acordos de oferecer recompensas por merecimentos, em vez de castigos. Alguns vão “morar no castigo”. Podemos fazer propostas claras e imediatas: se cumprir os combinados (agenda completa, revisão de conteúdo, lição, cooperação familiar mínima, habilidade social) poderá acessar as almejadas telas. Se não cumprir, não terá acesso a telas neste período. Claro que isso poderá ser acompanhado de explosão de sentimentos de raiva, com crises de birra, por vezes xingamentos, atirar objetos, ameaça de abandonar seu amor, ou choro. Os sentimentos todos podem e devem ser acolhidos com compreensão, mas imediatamente posicionados. “entendemos sua raiva de precisar adiar os prazeres e precisar cumprir os deveres, porém não aceitamos que jogue os objetos no chão ou que expresse palavras inadequadas”.

COMPORTAMENTOS SÃO CONTROLADOS POR CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS:SE...ENTÃO...

Uma vez que o comportamento tenha ocorrido, não poderá mais ser alterado. Já foi, já aconteceu, porém, as consequências imediatas que se seguem alteram a probabilidade desse comportamento vir a acontecer novamente, ou não. *

As terapeutas comportamentais usam a expressão “se...então...” para resumir esta condição. Se colocar dedo na tomada, então leva choque. Se ultrapassar o limite da bagunça na classe, então não participará do recreio... Portanto, uma ação ou um comportamento executado, será reforçado, quando seguido de uma consequência imediata: AÇÃO, CONSEQUÊNCIA, REFORÇADOR (estímulo). O indivíduo precisa vivenciar as consequências de seus atos. Isso ocorrendo de forma repetida leva ao aprendizado. As consequências imediatas passam a controlam a ação ou comportamento futuro do indivíduo.

Há uma frase que cabe bem na educação e formação dos nossos filhos, alunos, pacientes, enfim cidadãos, cujo autor parece ter sido Darwin que diz “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças do ambiente”.

Comportamento certo no lugar certo, maior probabilidade de sucesso.

COLOCAR LIMITES CLAROS, REGRAS CLARAS, FAZER ACORDOS

Estabelecer limites esclarece ao indivíduo o que pode, o que não pode e até onde pode.

Na adolescência há necessidade de fazer acordos. Há necessidade de ouvi-los para fechar os combinados. Não resolve apenas determinar nesta faixa etária.

As regras e limites devem ser colocados antecipadamente. Devem ser falados e se possível escritos e colocados em local visível. Devem ser usadas poucas palavras, de forma breve, firme e claras. Sem discurso de Fidel. Se necessário use sinônimos para não ficar dúvidas. Nada é óbvio: tudo precisa ser verbalizado, nada deve ser subentendido. Faça breve questionamento para verificar se compreendeu claramente. Depois disso tudo, só resta assumir a consequência imediata e a frase: “que parte do não pode..., se não... ou do se...então ... você não entendeu?”

Se você não colocar limites, a sociedade o fará, porém não com tanta tolerância, compreensão e carinho.

Como nada é óbvio, esclareço que não adianta colocar limites se eles não forem respeitados.

Aprender a seguir regras e respeitar limites depende das consequências apropriadas que o indivíduo sofre.

AGIR COM CONSISTÊNCIA NÃO SIGNIFICA NÃO

Pais e cuidadores devem agir sempre da mesma maneira quando a criança ou o adolescente apresentar determinado comportamento. Não dá para dizer normalmente não pode, mas como hoje o pai está cansado, então pode.

Muitos pais dizem um “não”que significa “talvez”ou “não, mas tenho tanta dó de você”, ou muito peso na consciência pois trabalham muito e ficam pouco com o filho... porque você era tão fraquinho quando pequeno, quase não comia, é hiperativo, tinha asma, etc. “A sociedade inteira quer que eu diga não, mas eu acho que você já sofreu o suficiente...”.

MOTIVAÇÃO E RECOMPENSA LIBERAM NEUROTRANSMISSORES NO CÉREBRO

Os comportamentos adequados devem ser reforçados positivamente. Oferecer uma manifestação de afeto, um elogio sincero, o reconhecimento do esforço, um presentinho, enfim, uma consequência reconhecida como recompensadora para si próprio.

Existem famílias que não reforçam positivamente e ignoram cumprimentos de metas. O jovem se esforça, se comporta bem, obtendo o melhor resultado possível e não há qualquer manifestação de reconhecimento ou vem aquele comentário “não fez mais que a obrigação”.

O processo de neurodesenvolvimento é longo, se extendendo na maioria dos casos até por volta dos 23 anos de idade. Há algumas sutilezas de refinamento de tomadas de decisão que em alguns indivíduos acaba por volta dos 30 anos. A maioria por dos 20 anos já apresenta adequada maturidade neurológica. Claro que desde o início da adolescência vai havendo progressiva autonomia.

Caso haja algum tipo de disfunção do sistema nervoso, pode haver necessidade de gerenciamento próximo até o final do neurodesenvolvimento.

Dra. Saada R. S. Ellovitch

Neurologia da Infância e Adolescência.