terça-feira, 30 de abril de 2013

Pensamentos e Reflexões


CONFLITOS E TENSÕES REVELADOS


A poeira que estava debaixo do tapete começa a aparecer e não será a empregada que irá limpar... E agora???







A nova lei das empregadas domésticas é, sem dúvida, um avanço trabalhista. Contudo, nesta excelente reportagem, a autora mostra como a nova lei também acabou revelando tensões existentes dentro das famílias e da sociedade brasileira. Conflitos estes que, muitas vezes, eram jogados para baixo do tapete e que o trabalho da empregada doméstica ajudava a camuflar. Aqui ela se refere, por um lado, ao acúmulo de funções das mulheres no âmbito pessoal e doméstico, à falta de educação das crianças com suas responsabilidades dentro de casa e da escola, ao machismo e não divisão de tarefas domésticas. Por outro lado, a problemas mais estruturais, tais como exploração e baixos salários, falta de creches, de hospitais adequados, jogo de empurra-empurra entre escola e família etc.
Embora o momento seja conturbado traz a possibilidade de colocarmos na mesa situações muitas vezes escondidas que precisamos encarar como sujeitos e cidadãos.
Boa leitura!



Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do Lien- Clínica e Assessoria




A empregada foi embora



• A conciliação da vida familiar com o mundo do trabalho entra de uma vez por todas na agenda da sociedade


ARTIGO - ROSISKA DARCY DE OLIVEIRA
Publicado: 27/04/13 - 0h00
Atualizado: 27/04/13 - 0h00


Chegou ao Brasil um problema que, na Europa, velho de meio século, em nosso país só as empregadas domésticas enfrentavam: como viver sem empregada, esse personagem que, dentro de casa, serve de amortecedor às tensões entre homens e mulheres confrontados às exigências do cotidiano de uma família.
Quem faz o quê na infinidade de pequenos gestos do dia a dia? Nem um nem outro. A resposta é simples: a empregada, a babá, a cuidadora. Por vezes as três tarefas em uma mesma pessoa. Baixos salários, jornadas infindáveis, condições de alojamento deploráveis, essa sequela da escravidão exigia uma abolição. A lei é bem-vinda. Abre uma dinâmica de transformação da sociedade que ainda não está visível em toda a sua profundidade e cujos desdobramentos vão muito além dos muros da casa. Vai interpelar, para além do orçamento das famílias, as contas públicas e a organização do tempo nas empresas.
Mulheres pobres conhecem bem os malabarismos que fazem para criar seus filhos quando a oferta de creches públicas é ridícula em relação à demanda e a escola de tempo integral uma promessa sempre adiada. Jovens pelas ruas são vitimas e herdeiros de um país em que suas mães foram invisíveis e impotentes. A elas não se dava resposta, apenas o conselho de que não tivessem filhos, embora cuidassem dos filhos dos outros. São elas a maior parcela da mão de obra feminina e de mulheres chefes de família.
A classe média resolvia o seu problema delegando-lhes as tarefas que, sem elas, recairiam — e vão recair — sobre as mulheres com carreiras em construção. Nossa cultura, até aqui, isentou os homens desse tipo de atividade dita subalterna. É essa classe média, cada vez mais numerosa e influente, que tem voz e é capaz de defender seus interesses, que vai colocar no debate público as relações entre o mundo do trabalho e o da família no momento em que o emprego doméstico muda de estatuto.
Essa mudança põe a nu o valor — e também o peso — da vida privada que, longe de ser um bloco homogêneo de gestos que se repetem, é uma teia de situações variadas que se tecem ao longo dos dias, envolvendo sentimentos delicados e rotinas que garantem a sobrevivência.
A família não é apenas abrigo, o lugar do sustento material. É o espaço onde somos iniciados à nossa própria humanidade. Quando a escola assume a educação formal das crianças já trabalha sobre uma imensa soma de conhecimentos práticos, gestos aprendidos, atitudes consentidas ou coibidas, agressividades domadas sem as quais seria não só inútil como impossível ensinar a ler e a escrever e a efetuar as quatro operações. Ironia: essa soma de conhecimentos muitas vezes é transmitida por uma mulher sem educação formal, que exerce junto a uma criança, que não é sua, um papel maternal. E aí reside a complexidade da relação humana imbricada ao trabalho doméstico. De modo ainda mais pungente, a relação de idosos e doentes com quem lhes cuida, testemunhas e alívio de suas fragilidades.
O Estado, de maneira imperceptível, descansava nas costas dessa mão de obra barata que velava a deficiência de uma rede institucional de creches, casas para idosos e escolas de tempo integral. A lei das domésticas rasgou o véu. O Estado doravante vai ter que devolver em serviços os impostos pagos. Essa rede institucional se torna imprescindível e inadiável, como é nos países europeus e nos Estados Unidos, onde os direitos que a lei avança não teriam sido exequíveis sem serviços públicos eficientes.
As empresas também vinham sendo poupadas pelo trabalho doméstico barato. Ele liberava o tempo que homens e mulheres não reivindicavam como fazem nos países do hemisfério norte onde a conciliação entre trabalho e vida privada define a fronteira entre atraso e modernidade. A lei das domésticas torna evidente que, em um mercado de trabalho que absorve homens e mulheres em igual proporção, a vida privada, que as empresas sempre se permitiram ignorar, impõe novos arranjos e temporalidades.
A sociedade é um sistema complexo. Não se faz contemporânea em apenas um aspecto. Não se mexe em uma variável sem que haja repercussões no todo. A conciliação da vida familiar com o mundo do trabalho entra de uma vez por todas na agenda da sociedade brasileira. Não como uma questão privada a ser debatida em cada casa, como tem sido até aqui, mas como uma questão pública que chama às suas responsabilidades, exigindo que as assumam, homens e mulheres, governantes e empregadores. Todos entoando o refrão bem conhecido das donas de casa: e agora, que a empregada foi embora?
Rosiska Darcy de Oliveira é escritora

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/a-empregada-foi-embora-8223739#ixzz2RzWnLBZi
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terça-feira, 16 de abril de 2013

Pensamentos e Reflexões



Imobilidade

(Fonte da Imagem: veja.abril.com.br)

É indiscutível a importância e influência da internet e das tecnologias nos dias de hoje.
As redes sociais propiciam uma nova forma de se comunicar e de se expressar, mudando drasticamente o comportamento das pessoas. Estabelece e promove a interação individual e coletiva e de forma significativa, mas trás na bagagem alguns efeitos colaterais importantes: o constrangimento diante da exposição do internauta através de postagens indesejadas e no que diz respeito à autoimagem há possibilidade de estabelecer um padrão idealizado e desejado que não compete com a realidade e a não sustentabilidade disso pode causar frustação e angústia. Sem falar do exibicionismo, onde questões narcísicas entram em jogo.

A conectividade cresce em milhões e as redes sociais cada vez mais determinam e influenciam consumidores, empresas e negócios. O celular assume novas funções e poderá muito em breve ser usado como carteira, da mesma forma que utilizamos um cartão de crédito (imaginem um ‘comprador compulsivo’ diante desta tecnologia). Obviamente que o exagero leva à compulsão e tudo isso gera consequências sociais e psicológicas.

O que chama a atenção é ver cada vez mais pessoas absortas em suas ‘pequenas janelas’ com ‘infinitas possibilidades’. Em qualquer lugar, seja aonde for. O olhar muda de direção e a percepção idem. E o que resta ao mundo real?

No filme argentino “Medianeras – Buenos Aires na era do Amor Virtual", o protagonista comenta com certa melancolia que a internet o conectou com o mundo, mas tirou sua vida. Estamos diante de um protagonista solitário, numa situação extrema, mas a mensagem é para não possibilitar que o virtual camufle o real.

Imaginem as crianças diante deste ‘penico virtual’ nas primeiras fases do desenvolvimento. Ao invés de contar com o olhar dos pais, dos cuidadores ou simplesmente terem o privilégio de se apropriarem de suas próprias percepções e sensações nesta etapa importante do aprendizado infantil, estarão provavelmente absortas e conectadas nesta janela virtual, nem se dando muito conta deste aprendizado, estimuladas ciberneticamente. Que tipo de vivência se estabelecerá a partir disto? Quais os efeitos na vida desta pessoa? Pode ser extremamente cômodo e facilitador para os pais e por isso estranho e assustador, mas provavelmente é o futuro das novas gerações, irremediavelmente.

O convite é para refletirmos sobre esta ‘imobilidade’ diante de uma ‘estagnação’ e do quanto é sedutor se “desconectar” do mundo real pelo apelo de uma realidade muito mais dinâmica, facilitadora, atrativa e muitas vezes ‘indolor’. Não é ir contra a tecnologia, mas saber fazer uso sem desperdiçar outros aspectos importantes da vida.

Provavelmente por outras gerações não tão sucumbidas a esta realidade virtual, já é perceptível certa nostalgia de outros tempos. Onde um olhar, um gesto ou uma palavra diziam tanto e ao vivo e a cores...

O trecho do artigo “Conheça suas motivações para ter sucesso duradouro” do Paulo Campos da Exame.com sintetiza muito bem estas questões:

“No final de 2013, você estará próximo de ser a mesma pessoa que é hoje, exceto por dois motivos: pelos livros que você vai ler e pelas pessoas que vai conhecer. Então, invista mais tempo em relacionamentos “ao vivo” do que em “virtuais”. E delicie-se na livraria ou na biblioteca: a informação envelhece e o conhecimento renova”.

Vanessa M. da Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Cinema e Psicanálise



Filme Amor






• Dirigido por
Michael Haneke
• Com
Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert mais
• Gênero
Drama
• Nacionalidade
• França , Alemanha , Áustria Inicial

Sinopse e detalhes
Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) são um casal de aposentados, que costumava dar aulas de música. Eles têm uma filha musicista que vive com a família em um país estrangeiro. Certo dia, Anne sofre um derrame e fica com um lado do corpo paralisado. O casal de idosos passa por graves obstáculos, que colocarão o seu amor em teste.

Comentários:
Trata-se de um filme com uma temática extremamente sensível: doença, morte, amor, dignidade, limites, cuidados. Possui um ritmo lento, o ritmo de um cotidiano que vai se deteriorando em paralelo à doença da protagonista. Há perguntas que ficam no ar:
Há limites para o amor? Até que ponto um pedido da/o companheira/o deve ser atendido? Como e de que forma é possível reconhecer os nossos próprios limites quando o outro necessita dos nossos cuidados? O que significa ter dignidade em um momento de doença grave? È possível preservar a intimidade? Quando o outro se torna irreconhecível para nós, ele continua sendo ele mesmo?
Perguntas instigantes que levam o espectador a uma inevitável reflexão. Vale a pena!

Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do LIEN- Clínica e Assessoria

terça-feira, 2 de abril de 2013

Cinema e Psicanálise



CAFÉ DE FLORE
Direção: Jean-Marc Vallée
Canadá, França, 2011.
Sinopse:
Esta história de amores se passa em dois momentos distintos: Paris nos anos 1960 e Montreal nos dias atuais. Na primeira história, Antoine é um DJ canadense, apaixonado pela namorada Rose, mas ainda traumatizado pelo fim da relação com Carole, seu amor de adolescência e mãe de seus filhos. Já a segunda história mostra Jacqueline, mãe de um jovem com Síndrome de Down, que se apaixona por uma garota com a mesma doença que a dele.
(Fonte: Adorocinema)

Comentários:


Filme repleto de enigmas e símbolos com duas histórias contadas paralelamente em contextos e tempos distintos.
Na história canadense o protagonista articula com a vida através de sua musicalidade. Há um triângulo amoroso entre ele, sua namorada e a mãe de suas filhas. Afinal, como bancar esta nova escolha em relação ao eterno primeiro amor?
Na história francesa estamos diante de uma mãe amorosa, que vive exclusivamente para cuidar e educar seu filho com Down, que luta por seu bem estar e por sua inclusão social. Mas, quando seu filho conhece outra garotinha na escola com a mesma síndrome, eles se encantam um com o outro e se ‘grudam’, para desespero da mãe. Ela tenta lidar e driblar a situação, mas diante do insucesso e da renuncia do seu objeto de amor, um trágico desfecho acontece envolvendo esta mãe e as duas crianças (outro triângulo amoroso).
Acompanhamos as histórias espreitando uma conexão entre elas. E as coincidências se revelam pouco a pouco, surpreendentemente, através da música, das fotografias, dos sonhos e de algumas imagens entre o passado e o presente. É também sensível e carismática a maneira que o filme retrata a condição das crianças, cheias de possibilidades, afetos e com certa independência.
São histórias que brincam com o nosso imaginário e que falam de vidas passadas.

“Tudo aquilo que não enfrentamos em vida acaba se tornando o nosso destino”.
(Carl Jung)


Fica a dica deste belíssimo filme!

Vanessa Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria