domingo, 20 de outubro de 2013

Cinema, Livro e Psicanálise



Pelos Olhos de Maisie
(What Maisie Knew)
EUA
Janeiro de 2014 (estreia prevista nas salas de cinema)
Dirigido por Scott McGehee e David Siegel

Sinopse do filme:
‘Em meio ao conturbado divórcio dos pais, Maisie (Onata Aprile), uma garotinha de sete anos, tenta entender o que se passa. De um lado a mãe, Susanna (Julianne Moore), uma estrela do rock. Do outro o pai, Beale (Steve Coogan), um influente galerista. Unindo os dois, a menina, que logo descobre um novo significado para a palavra "família"’.
(Fonte: Adoro cinema)

Sinopse do livro (autor Henry James, 1897):

‘A separação de seus pais gerou uma situação inusitada para Maisie. Apesar de a guarda ter sido concedida ao pai, acabou sendo estabelecido que a menina ficasse com os dois. Dividida, Maisie vira um joguete na mão do casal e, aos poucos, expõe os contrastes, entre virtudes e defeitos, entre inocência e cinismo, de ambas as partes, ao mesmo tempo em que descobre um modo próprio de ver o mundo. A personagem está num lugar privilegiado para Henry James contar esta história admirável, feita de objetividade narrativa, observação detalhada e sutil ironia. Maisie já não é criança, mas ainda não é adulta. Situa-se ao mesmo tempo dentro e fora da trama. Por isso, sua vida ilumina e desvela costumes, princípios e fraquezas de uma família desagregada e de uma sociedade movediça’.
(Fonte: Submarino)

Comentários:

Maisie é uma garotinha sensível que ensina muito aos seus pais neste delicado filme, que faz uma bela reflexão sobre o comprometimento afetivo e a responsabilidade do ‘cuidar’ de uma criança. Pelos ‘olhos’ desta menina, sentimos toda a aflição de quem fica entre pais que olham muito mais para suas vidas do que para a da filha. O que é depender de um outro ‘insuficiente’? Para que serve um quarto cheio de brinquedos, mas vazio de afetos? E os presentes dos pais compensando suas ausências? Os atrasos na entrada e saída da escola? Sabemos da importância do educar e da proteção que uma criança necessita para se desenvolver e se estruturar emocionalmente, inclusive pela influência dos pais ou cuidadores(funções materna e paterna). Mas, a menina do filme pouco chora, precocemente percebe que está em apuros e vai se adaptando as mais variadas situações e conflitos. Felizmente consegue também estabelecer relações mais favoráveis com outros adultos, que possibilitam que ela volte a experimentar as alegrias de ser criança.

Fica a dica do filme e do livro sobre as complexas relações familiares!

Vanessa M. da Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Pensamentos e Reflexões



Por que o futebol encanta?




Algumas mulheres não conseguem entender porque os homens se encantam com uma partida de futebol. Para elas se trata apenas de jogadores correndo em um gramado atrás de uma bola. Muitas desconhecem com precisão as regras, mas todo mundo reconhece um gol! Há também as apaixonadas e entendidas e até as jogadoras profissionais, claro; existem também homens que não gostam, mas isso é raro.... Mas aqui quero falar sobre um enigma que acompanha o cotidiano do brasileiro e de maioria dos latino-americanos.
O futebol provoca ódios e amores, ou seja, paixões.
A linguagem do futebol pode ser nossa bússola já que inclui as palavras: defesa, ataque, passe, drible, falta, jogador, juiz, time, estádio, entre muitas outras.
Estas palavras lembram metaforicamente situações da nossa vida real.
Talvez por isso este esporte apaixone multidões.
Ao longo dos 90 minutos ou mais, os espectadores torcem e sofrem pelo seu time. Acompanhar uma partida acende a paixão pelo jogo e pela vida. Interessante porque em poucos segundos pode se passar da felicidade à tristeza, da ira à ternura, do companheirismo à violência.
Acredito que as pessoas projetem no jogo seus próprios anseios: ganhar, perder, lutar, se esforçar, brilhar, trabalhar em equipe, ser punido, esperar são verbos que conjugamos no dia-a-dia: na família, no trabalho, na escola, em casa.
O que mais chama a atenção é a fugacidade dos bons momentos que o futebol oferece. Como na vida um gol dura segundos, um passe mal dado pode causar graves problemas, não se defender pode fazer-nos cair. Como na vida, durante o jogo podemos ser desleais, mentir, fingir, sacanear o outro, até ser agressivos e violentos. Porém, o que encanta é o drible, a luta, a tenacidade e a insistência por colocar a bola na rede, ou seja, por alcançar nosso objetivo.
Nosso objetivo, contudo, não é vencer um jogo: é viver! Vencer os desafios, as dificuldades, doenças etc. faz parte, mas o que mais gostamos é mesmo VIVER!!!

Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do LIEN- Clínica e Assessoria

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Cinema e Psicanálise


OS SABORES DO PALÁCIO
(Les saveurs du palais)
Direção: Christian Vincent
França, 2013.

Sinopse:

Hortense Laborie (Catherine Frot) é uma respeitada chef que é pega de surpresa ao ser escolhida pelo presidente da França para trabalhar no Palácio de Eliseu. Inicialmente, ela se torna objeto de inveja, sendo mal vista pelos outros cozinheiros do local. Com o tempo, no entanto, Hortense consegue mudar a situação. Seus pratos conquistam o presidente, mas terá sempre que se manter atenta, afinal os bastidores do poder estarão cheios de armadilhas.
(Fonte: Adorocinema)

Comentários:

Deliciosos pratos da culinária francesa desfilam pelo filme. Apesar da preferência por uma cozinha trivial, com certo apelo familiar, é um filme de aromas requintados. A Chef consegue sensibilizar o presidente (Mitterrand), pois ele resgata lembranças preciosas de sua infância através de sua culinária. A Chef em questão é uma mulher perfeccionista, exigente e temperamental. Não a toa ela é convidada para desempenhar tão importante papel, o de cuidar com exclusividade do cardápio do presidente. Mas, ela se depara também com outros desafios, como as burocracias do palácio e o de transitar em uma cozinha predominantemente masculina de chefs, que se incomodam com a sua presença, dificultando seu trabalho. Mas, como seu exclusivo objetivo é agradar ao paladar do presidente, ela não mede esforços para isso. Muda toda a estrutura da cozinha, trazendo seus próprios utensílios (e desprezando os requintados aparatos), contratando um único assistente e se utilizando de seus fornecedores, com produtos de alta qualidade. Ela consegue reunir bom gosto e simplicidade em sua função, deixando sua marca.
Um filme que cabe muito bem ao mundo corporativo, diante da superação das contrariedades, pelas suas convicções e por concluir seu projeto de forma exemplar. Mas, como tudo tem limites, em um determinado momento ela tem que sair de cena e deixar tão prestimoso cargo. O filme acompanha duas fases bem distintas de sua vida, na França e na Antártida. Nesta última fica evidente a admiração de quem a cerca, pois ela é homenageada de forma afetuosa.
Persistência e determinação parecem ser a chave do sucesso nesta história baseada em fatos reais.

Fica a dica deste filme cheio de propósitos!

Vanessa M. da Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

quarta-feira, 14 de agosto de 2013



Infância e Educação


Convido você a ler reportagem sobre o funcionamento do cérebro na adolescência.
A contribuição consiste em compreender que existe um imediatismo no adolescente associado à necessidade urgente de obter prazer.
Neste sentido, o desafio é o trabalho com o adiamento do prazer, as trocas e a convivência com as frustrações.

Boa leitura,

Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do LIEN Clínica e Assessoria





O cérebro do adolescente
13/08/2013


Artigo da Neurologista da Infância e da Adolescência Dra. Saada R. S. Ellovitch



Todos sabemos que a adolescência é um período de grandes transformações físicas e emocionais próprias do desenvolvimento do corpo e do cérebro. Este período é caracterizado por decisões sub-ótimas e ações associadas ao aumento de possíveis comportamentos não intencionais, com consequências muitas vezes para o resto da vida do indivíduo e sua família: envolvimento em acidentes, violência, exposição ao uso de drogas lícitas e ilícitas, gestação indesejada e doença sexualmente transmissível.

Gastam a maior parte do tempo com seus pares, outros adolescentes, fisicamente ou virtualmente, ficando menos tempo com adultos. Apresentam frequentes conflitos com os pais.

O alicerce do desenvolvimento cognitivo é a habilidade de suprimir pensamentos e atos inapropriados a favor de ações direcionadas a metas, especialmente na presença de incentivos irresistíveis. Isso significa que um bom investimento futuro é desenvolver desde a infância , desde a pré escola, a tolerar frustrações, controlando impulsos e adiar recompensas. Pois é, “engolir sapos” e não ganhar tudo que quer faz parte do treinamento.

Existem muitos mitos sobre o funcionamento do cérebro do adolescente, que os avanços da neurociência e principalmente da neuroimagem funcional têm recentemente sido esclarecidos.

SÓ EMOÇÃO E BUSCA PELO PRAZER IMEDIATO

Ressalto que o adolescente apresenta como característica comportamento de maior exposição ao risco, grande reatividade emocional e menor planejamento e controle de suas ações. O conhecimento da neurociência atual comprova o que a experiência de nossos antepassados já conhecia na prática. Na adolescência primeiro se desenvolve, ou amadurecem as áreas responsáveis pela emoção. Isso está associado a diferentes trajetórias do desenvolvimento de regiões límbicas subcorticais nesta idade (áreas da emoção). Caminhando para o final da adolescência e idade adulta ocorre progressiva mudança de controle para a região cortical, mais precisamente o córtex pré-frontal (área da razão), responsável pelo controle cognitivo e funções executivas. Corresponde a desenvolver planejamento e execução de seus atos em direção a cumprir metas.

Até ratos e chimpanzés adolescentes se arriscam mais e vivem à caça de novidades e prazeres.

O controle do cérebro do adolescente vai de baixo para cima, das regiões subcorticais para o córtex: prazer aqui e agora, custe o que custar. O adolescente não antevê consequências, mas não podemos dizer que não tenham fé. Sempre acham que suas atitudes intempestivas vão dar certo.

Dizer para o adolescente estudar, para ter um emprego melhor no futuro ou mesmo estudar diariamente para chegar no final do ano e passar de ano para ganhar computador novo, fica difícil de ser atingido. Eles precisam ter a recompensa rápida. Seu cérebro é movido pelo aqui e agora. Prazer já! Mais gostoso ficar no ipad.

O controle do adulto “maduro”acontece de cima para baixo, do córtex pré-frontal, responsável pela razão, predominando sobre as regiões subcorticais, da emoção. Progressivamente ocorre amadurecimento no sentido de desenvolver maior eficiência no controle cognitivo, com melhores tomadas de decisões e modulação do afeto.

RECOMPENSAS POR MÉRITOS

Fica mais efetivo descobrirmos seu maior prazer, que geralmente são o acesso às “telas”: tabletes, iphone, computador e TV, para fazermos acordos de oferecer recompensas por merecimentos, em vez de castigos. Alguns vão “morar no castigo”. Podemos fazer propostas claras e imediatas: se cumprir os combinados (agenda completa, revisão de conteúdo, lição, cooperação familiar mínima, habilidade social) poderá acessar as almejadas telas. Se não cumprir, não terá acesso a telas neste período. Claro que isso poderá ser acompanhado de explosão de sentimentos de raiva, com crises de birra, por vezes xingamentos, atirar objetos, ameaça de abandonar seu amor, ou choro. Os sentimentos todos podem e devem ser acolhidos com compreensão, mas imediatamente posicionados. “entendemos sua raiva de precisar adiar os prazeres e precisar cumprir os deveres, porém não aceitamos que jogue os objetos no chão ou que expresse palavras inadequadas”.

COMPORTAMENTOS SÃO CONTROLADOS POR CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS:SE...ENTÃO...

Uma vez que o comportamento tenha ocorrido, não poderá mais ser alterado. Já foi, já aconteceu, porém, as consequências imediatas que se seguem alteram a probabilidade desse comportamento vir a acontecer novamente, ou não. *

As terapeutas comportamentais usam a expressão “se...então...” para resumir esta condição. Se colocar dedo na tomada, então leva choque. Se ultrapassar o limite da bagunça na classe, então não participará do recreio... Portanto, uma ação ou um comportamento executado, será reforçado, quando seguido de uma consequência imediata: AÇÃO, CONSEQUÊNCIA, REFORÇADOR (estímulo). O indivíduo precisa vivenciar as consequências de seus atos. Isso ocorrendo de forma repetida leva ao aprendizado. As consequências imediatas passam a controlam a ação ou comportamento futuro do indivíduo.

Há uma frase que cabe bem na educação e formação dos nossos filhos, alunos, pacientes, enfim cidadãos, cujo autor parece ter sido Darwin que diz “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças do ambiente”.

Comportamento certo no lugar certo, maior probabilidade de sucesso.

COLOCAR LIMITES CLAROS, REGRAS CLARAS, FAZER ACORDOS

Estabelecer limites esclarece ao indivíduo o que pode, o que não pode e até onde pode.

Na adolescência há necessidade de fazer acordos. Há necessidade de ouvi-los para fechar os combinados. Não resolve apenas determinar nesta faixa etária.

As regras e limites devem ser colocados antecipadamente. Devem ser falados e se possível escritos e colocados em local visível. Devem ser usadas poucas palavras, de forma breve, firme e claras. Sem discurso de Fidel. Se necessário use sinônimos para não ficar dúvidas. Nada é óbvio: tudo precisa ser verbalizado, nada deve ser subentendido. Faça breve questionamento para verificar se compreendeu claramente. Depois disso tudo, só resta assumir a consequência imediata e a frase: “que parte do não pode..., se não... ou do se...então ... você não entendeu?”

Se você não colocar limites, a sociedade o fará, porém não com tanta tolerância, compreensão e carinho.

Como nada é óbvio, esclareço que não adianta colocar limites se eles não forem respeitados.

Aprender a seguir regras e respeitar limites depende das consequências apropriadas que o indivíduo sofre.

AGIR COM CONSISTÊNCIA NÃO SIGNIFICA NÃO

Pais e cuidadores devem agir sempre da mesma maneira quando a criança ou o adolescente apresentar determinado comportamento. Não dá para dizer normalmente não pode, mas como hoje o pai está cansado, então pode.

Muitos pais dizem um “não”que significa “talvez”ou “não, mas tenho tanta dó de você”, ou muito peso na consciência pois trabalham muito e ficam pouco com o filho... porque você era tão fraquinho quando pequeno, quase não comia, é hiperativo, tinha asma, etc. “A sociedade inteira quer que eu diga não, mas eu acho que você já sofreu o suficiente...”.

MOTIVAÇÃO E RECOMPENSA LIBERAM NEUROTRANSMISSORES NO CÉREBRO

Os comportamentos adequados devem ser reforçados positivamente. Oferecer uma manifestação de afeto, um elogio sincero, o reconhecimento do esforço, um presentinho, enfim, uma consequência reconhecida como recompensadora para si próprio.

Existem famílias que não reforçam positivamente e ignoram cumprimentos de metas. O jovem se esforça, se comporta bem, obtendo o melhor resultado possível e não há qualquer manifestação de reconhecimento ou vem aquele comentário “não fez mais que a obrigação”.

O processo de neurodesenvolvimento é longo, se extendendo na maioria dos casos até por volta dos 23 anos de idade. Há algumas sutilezas de refinamento de tomadas de decisão que em alguns indivíduos acaba por volta dos 30 anos. A maioria por dos 20 anos já apresenta adequada maturidade neurológica. Claro que desde o início da adolescência vai havendo progressiva autonomia.

Caso haja algum tipo de disfunção do sistema nervoso, pode haver necessidade de gerenciamento próximo até o final do neurodesenvolvimento.

Dra. Saada R. S. Ellovitch

Neurologia da Infância e Adolescência.


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Cinema e Psicanálise


BRANCA DE NEVE

(Blancanieves)
Espanha, 2013
Diretor: Pablo Berger

Sinopse e comentários:

Versão espanhola do conto de fadas em preto e branco e sem diálogos. Ambientada na Sevilha de 1920 com touradas, trilha sonora e dança flamenca.
A Branca de Neve se chama Carmen e é criada pela avó materna. Seus pais eram um casal apaixonado, a mãe dançarina de flamenco e o pai um famoso toureiro. Após o nascimento de Carmen, a mãe morre no parto e coincide com um trágico acidente com o pai nas touradas. O pai rejeita a filha com a morte da amada e fica sob os cuidados de uma enfermeira interesseira, que se torna depois sua esposa. O pai fica paraplégico e prisioneiro da nova esposa deslumbrada com sua riqueza. Com a morte da avó, Carmen também fica submetida aos maus tratos da madrasta. Porém, enquanto ela se entretém com seus luxos e amante, Carmen usufrui da curta convivência com o pai. Ela o alegra e ele a ensina a tourear. Após a morte do pai premeditada pela madrasta, Carmen foge, conhece um grupo de anões toureiros e segue os caminhos do pai se tornando uma toureira famosa. Em evidência, Carmen chama a atenção da madrasta, que se enfurece ao vê-la em destaque nas capas das revistas. A madrasta busca o mesmo destaque sendo fotografada para as manchetes pela sua riqueza. O que está em jogo não é a beleza, mas a fama e o sucesso.
Carmen conquista o êxito pelo seu talento e carisma, mas com certa ingenuidade. A maldade da madrasta é evidente e a exploração de seu empresário também, pois faz Carmen assinar um contrato 'para sempre' com ele nas touradas. Ela conta com a amizade e dedicação dos anões, seus verdadeiros aliados. O final não é feliz e nem convencional, pois como não há príncipe não há beijo que desperte esta Carmen submetida a exploração de um contrato e adormecida como Branca de Neve...

A nova versão conserva alguns pontos relevantes do conto clássico com algumas considerações psicanalíticas interessantes extraídas do livro “A Psicanálise dos Contos de Fadas" de Bruno Bettelheim:

Branca de Neve quando foge penetra no caminho desesperadamente solitário de buscar-se a si mesma. Os anos com os anões que representam o período de dificuldades, de elaboração dos problemas, seu período de crescimento. A luta edípica da menina púbere não é reprimida, mas se concretiza ao redor da mãe como competidora. O pai não consegue uma posição forte e definida, não oferecendo segurança e proteção para ela. Os anões são incapazes de protegê-la e a madrasta ainda tem poder sobre ela, pois consegue lhe oferecer a maça envenenada. O conto de Fadas mostra que não podemos nos libertar do impacto dos pais e dos sentimentos que temos por eles, fugindo de casa, embora pareça o caminho mais fácil. A independência se dá na elaboração dos conflitos internos. A rainha madrasta representa a mãe que temporariamente consegue 'parar' o desenvolvimento da filha. Seu desmaio simboliza que foi esmagada pelo conflito entre os desejos sexuais e a ansiedade quanto à eles. Sãos seus conflitos adolescentes sua ruína ao que parece. A maça representa o amor e o sexo. Remete-nos a Afrodite e a Eva (fruto proibido). O sono mortal de Branca de Neve no caixão de vidro transparente é um período de gestação, seu período final de preparação para a maturidade. O branco simboliza a pureza, a inocência. A conexão com a Neve simboliza a inércia. Quando a neve cobre a terra, a vida parece estancar.
A estória da Branca de Neve ensina que alcançar a maturidade física não significa estar preparado emocionalmente e intelectualmente para a idade adulta.
São necessários tempo e crescimento para esta maturidade.


"Cantiga para não morrer" de Ferreira Gullar:

'Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento'.



Vanessa M. da Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Cinema e Psicanálise


'AUGUSTINE'

Diretora: Alice Winocour

França, 2013.

Sinopse:

'Inverno de 1885, Paris. O professor Jean-Martin Charcot (Vincent Lindon), do Hospital Pitié-Salpêtriere, está estudando uma doença misteriosa, a histeria, que atinge apenas as mulheres. Devido a pouca informação sobre a doença e suas características peculiares, os ataques de histeria por vezes são confundidos com possessões demoníacas, o que faz com que Charcot tenha que provar a seriedade de sua pesquisa. Um dia, chega ao hospital a jovem Augustine (Soko), de apenas 19 anos, que teve um ataque durante o trabalho. Logo ela se torna objeto de estudo de Charcot, que passa a dedicar um bom tempo à garota. Augustine acredita que Charcot possa curá-la e, aos poucos, desenvolve uma relação especial com o médico'.

(Fonte: Adorocinema)

Comentários:

Se a histeria era vista como 'simulação', foi com Charcot que foi reconhecida como doença. Ele escrevia obsessivamente sobre as crises histéricas de suas pacientes, era um experimentador e um grande hipnotizador. Seus discípulos tiveram a oportunidade de vislumbrar os aspectos psíquicos da doença, pois Charcot abriu as portas para as questões emocionais e sexuais destas mulheres. O filme destaca o interesse e cuidado do médico com estas pacientes, tentando decifrar os sintomas de conversão (que inconscientemente transformam um conflito psicológico em um sintoma físico, desviando a atenção de um problema emocional para um problema no corpo menos perturbador).
O objetivo de Charcot era classificar a histeria com uma doença com sintomas tão definidos quanto uma doença neurológica. O filme mostra o equívoco e engano por parte de um médico competente e dedicado. As perturbações psíquicas provavelmente geravam muito fascínio pelo o que era até então desconhecido e o filme revela no tratamento médico destas pacientes, uma atmosfera de curiosidade, vaidade e sedução. Augustine, com sua juventude e beleza, 'encena' seus sintomas e é eleita a favorita de seu médico. Ela logo se dá conta do impacto de suas performances diante dos médicos e como em um espetáculo é aplaudida enquanto se contorce exaustivamente de forma mais sedutora que doente. Estamos diante do 'gozo' da paciente e do 'suposto saber' do médico nos meandros da
'transferência amorosa'. Espreitamos então os olhares masculinos diante dos mistérios femininos e como não se lembrar de Freud e sua famosa pergunta: 'Afinal, o que quer uma mulher'?
Se a resposta tem relação com o ser desejada, a bela (e frágil?) Augustine faz seu médico sucumbir a seus encantos e desejos.
E como já dizia o discípulo de Charcot, Pierre Janet: “todo aquele que se ocupa de histéricas nunca mais é um homem comum”.


Vanessa M. da Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Pensamentos e Reflexões




A queixa dos adultos frente ao interesse das crianças e adolescentes pelos jogos, Internet, facebook e outras linguagens atuais



Em conversas entre grupo de pais comumente surge a queixa pelo “interesse excessivo” de crianças e adolescentes pelo chamado “mundo virtual”.
Uma pessoa conta, tentando exemplificar, que fez um churrasco para um grupo de casais e filhos em um sítio. De repente os filhos sumiram e eis que estavam todos sentados em uma ampla sala, cada um com seu celular no facebook ou jogando jogos, sem falar nada com ninguém.
Todos estão perplexos diante deste comportamento que julgam individualista e bitolado. Imagine, com tanto espaço, em um sítio e com um belo dia, todos trancados! Como pode??!!
Começa então uma lembrança saudosa das brincadeiras antigas que estes adultos tinham na escola, na rua, na praça etc. Ou seja, uma contraposição brutal de espaços e tempos que separam estas duas gerações de pais e filhos.
Observo também esta característica do fascínio pelas redes sociais e percebo que ela também é extensiva aos adultos: alguns casais em restaurantes não conversam pois cada um olha em seu celular e-mails, mensagens etc., grupos de amigos em um bar interagem pouco entre si, seduzidos pelo mesmo aparelhinho.
Penso então na atração da imagem todo poderosa que já não nos invade, visto que somos nós que a procuramos incessantemente.
Porém, penso sobretudo nas crianças e adolescentes e no seu espaço lúdico, na sua necessidade de brincar e se divertir tão cerceada pelos adultos. Medo de assaltos, insegurança, proteção excessiva, aceleração, desconhecimento dos vizinhos fazem com que o espaço da cidade seja cada vez mais restrito para crianças e adolescentes trancados em prédios, escolas, academias, shoppings ou em casas com grades. Assim, encontraram no mundo virtual de guerras, lutas, papos e curtições no facebook um espaço ainda “permitido”, ou seja, um pouco mais livre, algo semelhante a sensação dos adultos que em tempos não tão remotos brincavam na rua.
E principalmente penso que este especo virtual ainda é um espaço que os adultos não compreendem e não controlam totalmente. E isto é muito importante para a construção da identidade da criança e do adolescente.

Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do LIEN Clínica e Assessoria

terça-feira, 16 de julho de 2013

Cinema e Psicanálise


AMOR É TUDO O QUE VOCÊ PRECISA
(Den skaldede frisor)
Dinamarca/Suécia/Itália/França/Alemanha (2012)
Diretora: Susanne Bier

Sinopse:

'Duas famílias muito diferentes se encontram em uma casa de campo na Itália para festejar um grande casamento, planejado nos mínimos detalhes. Mas, nada ocorre como esperado... De um lado Patrick (Sebastian Jessen), o noivo, filho do inglês Phillip (Pierce Brosnan), empresário bem-sucedido, sempre envolvido em trabalho, ficou viúvo há alguns anos e não consegue se aproximar do próprio filho. Do outro lado à sonhadora Astrid (Molly Blixt Egelind), a noiva, jovem sonhadora em busca de um amor, vive o conto de fadas de um casamento, sempre apoiada por sua mãe Ida (Trine Dyrholm), uma cabeleireira charmosa e falante que recentemente ganhou uma batalha contra o câncer de mama. Os destinos de Ida e Phillip estão prestes a se entrelaçar, quando eles embarcam para a Itália para assistir ao casamento de seus filhos'.
(Fonte: O Globo)

Comentários:

Um filme que provavelmente cairia na pieguice se não fosse a direção firme e sensível desta premiada diretora dinamarquesa. O intercâmbio de seu país com o sul da Itália tornam o filme uma contemplação charmosa.
Apesar da roupagem romântica e do título em inglês (Love is all you need), o original fica inicialmente nada atrativo: 'A cabelereira careca'. Mas, é dela que o filme conta. E é esta personagem que reina nesta história de casamento, doença e luto.
Após enfrentar um câncer e presenciar a traição do marido, ela viaja para a Itália com o propósito de visitar sua filha na véspera de seu casamento e por lá passa por muitas surpresas.
É um filme extremamente feminino (a personagem personifica os papéis de mãe, esposa traída, mulher doente e apaixonada). Com carisma, sensibilidade e força ela consegue dar suporte afetivo à sua família e com obstinada tolerância dribla os constrangimentos e exposições com muita humanidade e simplicidade, mudando radicalmente sua vida.
É um belo filme sobre sexualidade, desejos, desafetos e amor.

A seguir um trecho do belo artigo da Maria Rita Kehl "Masculino/Feminino: O Olhar da sedução" que ilustra muito bem as impressões deste longa:

'Os apaixonados se propõem charadas sobre a diferença e a identificação, os limites e alcances do amor. E se eu for outro? E se você não for essa que aparenta ser?
E se nós dois trocarmos de lugar? Ou se fossemos dois homens... ou duas mulheres?
E se você for malvado? E se eu te fizer sofrer... até onde? Até que ponto?
Qual o limite... a dor? O incesto? O medo? Acreditar de novo em Deus? Cair na real? Trocaria as figurinhas da minha infância... todas! Com você... depois disso, quem vai se importar conosco? Quem vai nos reconhecer?
E trocam de papel, e trocam de lugar. Se permitem brincar com certa isenção... a proteção que o amor do outro oferece... com as angústias da infância.
Brincam com o perigo, refazem mistérios, encenam a sedução.
Brincam de liberdade, os pares apaixonados... e esta brincadeira, é quase de verdade'.


Vanessa M. da Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Pensamentos e Reflexões



Uma leitura sobre as manifestações dos jovens no Brasil





É sempre muito difícil compreender o que ocorre conosco no momento em que vivemos uma experiência; mais difícil ainda quando é uma vivência social. Freud dizia que só entendemos o significado do vivido em um segundo momento, ou seja, é uma segunda experiência que significa a primeira.
Assim, podemos pensar que os fenômenos vividos nas últimas semanas no Brasil trazem principalmente a marca da expressão, da crítica, da necessidade de mudança. Compareceram às manifestações pessoas de variados segmentos e idades, porém, sabemos que a convocação surgiu de um grupo de jovens de idades entre 20 e 30 anos, ou seja, nascidos entre os anos 1980 e 1990. Posso arriscar e imaginar que seus pais nasceram nas décadas dos anos 60’ e 70’, marcados pelos anos da ditadura militar, período caracterizado pela censura e repressão das liberdades civis.
Esta geração dos chamados “anos de chumbo” foi considerada aguerrida, lutadora, politizada etc. Em contraposição, vínhamos escutando que esta nova geração de adolescentes e jovens só se interessava pelas redes sociais e, no máximo, pelas questões ambientais...
Pois é, às vezes, não conseguimos perceber o que vai se passando de forma latente, bem embaixo dos nossos narizes!
Não pretendo aqui fazer uma análise sociológica ou política, e sim pensar no que significa a juventude e a adolescência (às vezes tida como extensa demais) para a sociedade, para a promoção de mudanças no mundo.
Os jovens representam o questionamento do instituído e a necessidade de novas formas de pensar e viver em sociedade. Frente ao grupo da chamada “geração que criticou e lutou contra o autoritarismo” parecia que nada de novo poderia ser criado ou superado em termos de lutas sociais. E os jovens nos demonstraram que encontrar um lugar de fala, de reivindicações que façam sentido não é fácil, mas que estão dispostos a lutar por isso!!

E que venham os jovens e “ventilem” as nossas crenças!!

Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do Lien- Clínica e Assessoria


sexta-feira, 14 de junho de 2013

Infância e Educação


No documentário "O choque de uma escola libertária com a ditadura militar", sobre os Ginásios Vocacionais, da década de 60, sob a idealização da educadora Mª Nilde Mascellani pode-se constatar a importância de uma educação de qualidade baseada na promoção de uma atitude crítica dos alunos perante a realidade. Este tipo de formação foi tão importante que, na época da ditadura militar, a escola sofreu perseguição, afastamento de professores e até a prisão de sua diretora.
Nas palavras da sua diretora Mª Nilde Mascellani: “O objetivo é levar o jovem à descoberta de sua personalidade, conhecendo os seus interesses e aptidões e percebendo o mundo e a si mesmo, a fim de situar-se na sociedade para desempenhar seu papel transformador”.



http://www.youtube.com/watch?v=kxlrQokWeqo


Vale a pena assistir!

Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do Lien- Clínica e Assessoria

domingo, 9 de junho de 2013



"Ensinar as meninas que a aparência delas é a primeira coisa que se nota ensina a elas que o visual é mais importante do que qualquer outra coisa. Isso as leva a fazer dieta aos 5 anos de idade, usar base aos 11, implantar silicone aos 17 e aplicar botox aos 23. Enquanto a exigência cultural de que as garotas sejam lindas 24 horas por dia se torna regra, as mulheres têm se tornado cada vez mais infelizes. O que está faltando? Um sentido para a vida, uma vida de ideias e livros e de sermos valorizadas por nossos pensamentos e realizações."







http://lobjettrouve.wordpress.com/2012/08/15/como-conversar-com-meninas/




Neste artigo, a autora destaca algo que geralmente passa desapercebido: a forma como falamos com as meninas.
Assim, o que ela destaca não é somente o estilo de fala "meloso", "carinhoso" etc, mas o conteúdo da mesma.
Alerta-mos sobre a valorização exgerada à apariência das crianças e a influência que isto terá no futuro delas.
É muito comum elogiarmos a roupa, cabelo, higiene, cuidado com irmãos, saber cozinhar etc., em detrimento de comentários sobre sua inteligência, criticidade, espírito científico, habilidade esportiva, entre outros aspectos.
Aqui cabe uma reflexão dos motivos desta nossa atitude e do tipo de mulheres que queremos formar.

Boa leitura!

Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do Lien- Clínica e Assessoria

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Pensamentos e Reflexões



"Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.

Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.

Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.

E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer."

(Lya Luft)

Comentários:

Se a existência é uma "aventura" e busca-se o tempo todo um sentido para o que se vive, este texto nos convida a uma reflexão do que realmente está ao nosso alcance. Aprendendo a lidar com as adversidades, reconhecendo as conquistas e valorizando o que importa. Sem grandes ambições, mas com nobres sentimentos. Afinal, numa sociedade onde se tende a consumir e absorver tudo rapidamente, a autora remete a possibilidade de "moderar" o bem viver, usufruindo dos aspectos importantes da vida com certo equilíbrio.

E como já dizia Jack Kerouac: "Apaixona-te pela tua existência".


Vanessa M. da Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Cinema e Psicanálise



FERRUGEM E OSSO
(De rouille et d'os)
DIRETOR Jacques Audiard
PRODUÇÃO França/Bélgica, 2012

Sinopse:

Alain (Matthias Schoenaerts) está desempregado e vive com o filho, de apenas cinco anos. Ele parte para a casa da irmã em busca de ajuda e logo consegue um emprego como segurança de boate. Um dia, ao apartar uma confusão, ele conhece Stéphanie (Marion Cotillard), uma bela treinadora de orcas. Alain a leva em casa e deixa seu cartão com ela, caso precise de algum serviço. O que eles não esperavam era que, pouco tempo depois, Stéphanie sofreria um grave acidente que mudaria sua vida para sempre.
(Fonte: Adorocinema)

Comentários:

É um filme sobre as transformações de um casal nada convencional, sendo ela uma domadora de Orcas e ele um lutador de luta livre. São seres humanos que lidam com o que há de mais instintivo, urgente e forte. A agressividade emoldura a história, para além da violência, mas diante da fragilidade e impotência de quem se coloca diante dela. Inclusive na condição do lutador com sua força física, mas também pelo seu desamparo e empobrecimento diante de recursos afetivos, que se revelam na convivência com seu filho e nas suas relações ‘amorosas’, puramente sexuais. O pequeno, por exemplo, se machuca pelo simples fato deste pai não saber o que fazer com ele próprio, com seu filho e com suas vidas.
A domadora de Orcas por sua vez sofre um trágico acidente envolvendo as baleias e acompanhamos o seu sofrimento diante da amputação, evento traumático que ocasiona muito sofrimento e inconformismo. Ficamos diante de sua revolta e isolamento.
As consequências emocionais e psíquicas diante da perda de um membro, de uma mudança corporal brusca, são impactantes e afetam profundamente a vida de uma pessoa.
O desafio desta nova realidade diante da amputação confronta o sujeito com questões subjetivas, sobre o valor da vida.
É interessante como o filme aborda o tema sem pieguice, mas pelos efeitos na protagonista diante de sua dor e de suas mudanças, pois aos poucos ela se redescobre, criando possibilidades diante dos limites do seu corpo. Ele por sua vez conta com o apoio dela nas lutas e na convivência afetiva com seu filho, tornando-se um homem mais confiante.
Estamos diante de domadoras e lutadores, personagens que lidam com seus instintos e sobrevivem diante das violências da vida.

Fica a dica deste filme em cartaz no 'Festival Varilux do Cinema Francês 2013' (de 1 a 16 de Maio), não percam!

Vanessa M. da Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

terça-feira, 30 de abril de 2013

Pensamentos e Reflexões


CONFLITOS E TENSÕES REVELADOS


A poeira que estava debaixo do tapete começa a aparecer e não será a empregada que irá limpar... E agora???







A nova lei das empregadas domésticas é, sem dúvida, um avanço trabalhista. Contudo, nesta excelente reportagem, a autora mostra como a nova lei também acabou revelando tensões existentes dentro das famílias e da sociedade brasileira. Conflitos estes que, muitas vezes, eram jogados para baixo do tapete e que o trabalho da empregada doméstica ajudava a camuflar. Aqui ela se refere, por um lado, ao acúmulo de funções das mulheres no âmbito pessoal e doméstico, à falta de educação das crianças com suas responsabilidades dentro de casa e da escola, ao machismo e não divisão de tarefas domésticas. Por outro lado, a problemas mais estruturais, tais como exploração e baixos salários, falta de creches, de hospitais adequados, jogo de empurra-empurra entre escola e família etc.
Embora o momento seja conturbado traz a possibilidade de colocarmos na mesa situações muitas vezes escondidas que precisamos encarar como sujeitos e cidadãos.
Boa leitura!



Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do Lien- Clínica e Assessoria




A empregada foi embora



• A conciliação da vida familiar com o mundo do trabalho entra de uma vez por todas na agenda da sociedade


ARTIGO - ROSISKA DARCY DE OLIVEIRA
Publicado: 27/04/13 - 0h00
Atualizado: 27/04/13 - 0h00


Chegou ao Brasil um problema que, na Europa, velho de meio século, em nosso país só as empregadas domésticas enfrentavam: como viver sem empregada, esse personagem que, dentro de casa, serve de amortecedor às tensões entre homens e mulheres confrontados às exigências do cotidiano de uma família.
Quem faz o quê na infinidade de pequenos gestos do dia a dia? Nem um nem outro. A resposta é simples: a empregada, a babá, a cuidadora. Por vezes as três tarefas em uma mesma pessoa. Baixos salários, jornadas infindáveis, condições de alojamento deploráveis, essa sequela da escravidão exigia uma abolição. A lei é bem-vinda. Abre uma dinâmica de transformação da sociedade que ainda não está visível em toda a sua profundidade e cujos desdobramentos vão muito além dos muros da casa. Vai interpelar, para além do orçamento das famílias, as contas públicas e a organização do tempo nas empresas.
Mulheres pobres conhecem bem os malabarismos que fazem para criar seus filhos quando a oferta de creches públicas é ridícula em relação à demanda e a escola de tempo integral uma promessa sempre adiada. Jovens pelas ruas são vitimas e herdeiros de um país em que suas mães foram invisíveis e impotentes. A elas não se dava resposta, apenas o conselho de que não tivessem filhos, embora cuidassem dos filhos dos outros. São elas a maior parcela da mão de obra feminina e de mulheres chefes de família.
A classe média resolvia o seu problema delegando-lhes as tarefas que, sem elas, recairiam — e vão recair — sobre as mulheres com carreiras em construção. Nossa cultura, até aqui, isentou os homens desse tipo de atividade dita subalterna. É essa classe média, cada vez mais numerosa e influente, que tem voz e é capaz de defender seus interesses, que vai colocar no debate público as relações entre o mundo do trabalho e o da família no momento em que o emprego doméstico muda de estatuto.
Essa mudança põe a nu o valor — e também o peso — da vida privada que, longe de ser um bloco homogêneo de gestos que se repetem, é uma teia de situações variadas que se tecem ao longo dos dias, envolvendo sentimentos delicados e rotinas que garantem a sobrevivência.
A família não é apenas abrigo, o lugar do sustento material. É o espaço onde somos iniciados à nossa própria humanidade. Quando a escola assume a educação formal das crianças já trabalha sobre uma imensa soma de conhecimentos práticos, gestos aprendidos, atitudes consentidas ou coibidas, agressividades domadas sem as quais seria não só inútil como impossível ensinar a ler e a escrever e a efetuar as quatro operações. Ironia: essa soma de conhecimentos muitas vezes é transmitida por uma mulher sem educação formal, que exerce junto a uma criança, que não é sua, um papel maternal. E aí reside a complexidade da relação humana imbricada ao trabalho doméstico. De modo ainda mais pungente, a relação de idosos e doentes com quem lhes cuida, testemunhas e alívio de suas fragilidades.
O Estado, de maneira imperceptível, descansava nas costas dessa mão de obra barata que velava a deficiência de uma rede institucional de creches, casas para idosos e escolas de tempo integral. A lei das domésticas rasgou o véu. O Estado doravante vai ter que devolver em serviços os impostos pagos. Essa rede institucional se torna imprescindível e inadiável, como é nos países europeus e nos Estados Unidos, onde os direitos que a lei avança não teriam sido exequíveis sem serviços públicos eficientes.
As empresas também vinham sendo poupadas pelo trabalho doméstico barato. Ele liberava o tempo que homens e mulheres não reivindicavam como fazem nos países do hemisfério norte onde a conciliação entre trabalho e vida privada define a fronteira entre atraso e modernidade. A lei das domésticas torna evidente que, em um mercado de trabalho que absorve homens e mulheres em igual proporção, a vida privada, que as empresas sempre se permitiram ignorar, impõe novos arranjos e temporalidades.
A sociedade é um sistema complexo. Não se faz contemporânea em apenas um aspecto. Não se mexe em uma variável sem que haja repercussões no todo. A conciliação da vida familiar com o mundo do trabalho entra de uma vez por todas na agenda da sociedade brasileira. Não como uma questão privada a ser debatida em cada casa, como tem sido até aqui, mas como uma questão pública que chama às suas responsabilidades, exigindo que as assumam, homens e mulheres, governantes e empregadores. Todos entoando o refrão bem conhecido das donas de casa: e agora, que a empregada foi embora?
Rosiska Darcy de Oliveira é escritora

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/a-empregada-foi-embora-8223739#ixzz2RzWnLBZi
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terça-feira, 16 de abril de 2013

Pensamentos e Reflexões



Imobilidade

(Fonte da Imagem: veja.abril.com.br)

É indiscutível a importância e influência da internet e das tecnologias nos dias de hoje.
As redes sociais propiciam uma nova forma de se comunicar e de se expressar, mudando drasticamente o comportamento das pessoas. Estabelece e promove a interação individual e coletiva e de forma significativa, mas trás na bagagem alguns efeitos colaterais importantes: o constrangimento diante da exposição do internauta através de postagens indesejadas e no que diz respeito à autoimagem há possibilidade de estabelecer um padrão idealizado e desejado que não compete com a realidade e a não sustentabilidade disso pode causar frustação e angústia. Sem falar do exibicionismo, onde questões narcísicas entram em jogo.

A conectividade cresce em milhões e as redes sociais cada vez mais determinam e influenciam consumidores, empresas e negócios. O celular assume novas funções e poderá muito em breve ser usado como carteira, da mesma forma que utilizamos um cartão de crédito (imaginem um ‘comprador compulsivo’ diante desta tecnologia). Obviamente que o exagero leva à compulsão e tudo isso gera consequências sociais e psicológicas.

O que chama a atenção é ver cada vez mais pessoas absortas em suas ‘pequenas janelas’ com ‘infinitas possibilidades’. Em qualquer lugar, seja aonde for. O olhar muda de direção e a percepção idem. E o que resta ao mundo real?

No filme argentino “Medianeras – Buenos Aires na era do Amor Virtual", o protagonista comenta com certa melancolia que a internet o conectou com o mundo, mas tirou sua vida. Estamos diante de um protagonista solitário, numa situação extrema, mas a mensagem é para não possibilitar que o virtual camufle o real.

Imaginem as crianças diante deste ‘penico virtual’ nas primeiras fases do desenvolvimento. Ao invés de contar com o olhar dos pais, dos cuidadores ou simplesmente terem o privilégio de se apropriarem de suas próprias percepções e sensações nesta etapa importante do aprendizado infantil, estarão provavelmente absortas e conectadas nesta janela virtual, nem se dando muito conta deste aprendizado, estimuladas ciberneticamente. Que tipo de vivência se estabelecerá a partir disto? Quais os efeitos na vida desta pessoa? Pode ser extremamente cômodo e facilitador para os pais e por isso estranho e assustador, mas provavelmente é o futuro das novas gerações, irremediavelmente.

O convite é para refletirmos sobre esta ‘imobilidade’ diante de uma ‘estagnação’ e do quanto é sedutor se “desconectar” do mundo real pelo apelo de uma realidade muito mais dinâmica, facilitadora, atrativa e muitas vezes ‘indolor’. Não é ir contra a tecnologia, mas saber fazer uso sem desperdiçar outros aspectos importantes da vida.

Provavelmente por outras gerações não tão sucumbidas a esta realidade virtual, já é perceptível certa nostalgia de outros tempos. Onde um olhar, um gesto ou uma palavra diziam tanto e ao vivo e a cores...

O trecho do artigo “Conheça suas motivações para ter sucesso duradouro” do Paulo Campos da Exame.com sintetiza muito bem estas questões:

“No final de 2013, você estará próximo de ser a mesma pessoa que é hoje, exceto por dois motivos: pelos livros que você vai ler e pelas pessoas que vai conhecer. Então, invista mais tempo em relacionamentos “ao vivo” do que em “virtuais”. E delicie-se na livraria ou na biblioteca: a informação envelhece e o conhecimento renova”.

Vanessa M. da Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Cinema e Psicanálise



Filme Amor






• Dirigido por
Michael Haneke
• Com
Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert mais
• Gênero
Drama
• Nacionalidade
• França , Alemanha , Áustria Inicial

Sinopse e detalhes
Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) são um casal de aposentados, que costumava dar aulas de música. Eles têm uma filha musicista que vive com a família em um país estrangeiro. Certo dia, Anne sofre um derrame e fica com um lado do corpo paralisado. O casal de idosos passa por graves obstáculos, que colocarão o seu amor em teste.

Comentários:
Trata-se de um filme com uma temática extremamente sensível: doença, morte, amor, dignidade, limites, cuidados. Possui um ritmo lento, o ritmo de um cotidiano que vai se deteriorando em paralelo à doença da protagonista. Há perguntas que ficam no ar:
Há limites para o amor? Até que ponto um pedido da/o companheira/o deve ser atendido? Como e de que forma é possível reconhecer os nossos próprios limites quando o outro necessita dos nossos cuidados? O que significa ter dignidade em um momento de doença grave? È possível preservar a intimidade? Quando o outro se torna irreconhecível para nós, ele continua sendo ele mesmo?
Perguntas instigantes que levam o espectador a uma inevitável reflexão. Vale a pena!

Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do LIEN- Clínica e Assessoria

terça-feira, 2 de abril de 2013

Cinema e Psicanálise



CAFÉ DE FLORE
Direção: Jean-Marc Vallée
Canadá, França, 2011.
Sinopse:
Esta história de amores se passa em dois momentos distintos: Paris nos anos 1960 e Montreal nos dias atuais. Na primeira história, Antoine é um DJ canadense, apaixonado pela namorada Rose, mas ainda traumatizado pelo fim da relação com Carole, seu amor de adolescência e mãe de seus filhos. Já a segunda história mostra Jacqueline, mãe de um jovem com Síndrome de Down, que se apaixona por uma garota com a mesma doença que a dele.
(Fonte: Adorocinema)

Comentários:


Filme repleto de enigmas e símbolos com duas histórias contadas paralelamente em contextos e tempos distintos.
Na história canadense o protagonista articula com a vida através de sua musicalidade. Há um triângulo amoroso entre ele, sua namorada e a mãe de suas filhas. Afinal, como bancar esta nova escolha em relação ao eterno primeiro amor?
Na história francesa estamos diante de uma mãe amorosa, que vive exclusivamente para cuidar e educar seu filho com Down, que luta por seu bem estar e por sua inclusão social. Mas, quando seu filho conhece outra garotinha na escola com a mesma síndrome, eles se encantam um com o outro e se ‘grudam’, para desespero da mãe. Ela tenta lidar e driblar a situação, mas diante do insucesso e da renuncia do seu objeto de amor, um trágico desfecho acontece envolvendo esta mãe e as duas crianças (outro triângulo amoroso).
Acompanhamos as histórias espreitando uma conexão entre elas. E as coincidências se revelam pouco a pouco, surpreendentemente, através da música, das fotografias, dos sonhos e de algumas imagens entre o passado e o presente. É também sensível e carismática a maneira que o filme retrata a condição das crianças, cheias de possibilidades, afetos e com certa independência.
São histórias que brincam com o nosso imaginário e que falam de vidas passadas.

“Tudo aquilo que não enfrentamos em vida acaba se tornando o nosso destino”.
(Carl Jung)


Fica a dica deste belíssimo filme!

Vanessa Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

sexta-feira, 22 de março de 2013

Pensamentos e Reflexões



MANEIRA DE AMAR

O jardineiro conversava com as flores e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza.
Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na devida ocasião.
O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho.
Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. "VOCÊ O TRATAVA MAL, AGORA ESTÁ ARREPENDIDO?" "NÃO, RESPONDEU, ESTOU TRISTE PORQUE AGORA NÃO POSSO TRATÁ-LO MAL. É A MINHA MANEIRA DE AMAR, ELE SABIA DISSO, E GOSTAVA".
(Carlos Drummond de Andrade)

Comentários:

Este belo texto fala das adversidades da vida...
O jardineiro é um cuidador zeloso, que independente das reações alheias, faz seu trabalho de forma amorosa e com muita dedicação. Ele não só rega as flores, mas se relaciona com elas.
O girassol representa o que é contraditório, contestador, já que reage de forma inesperada diante de tanta atenção. Como um filho rebelde que desconsidera o afeto, destrata seus entes, mas que inquestionavelmente ama e provavelmente conta com os cuidados por parte deles.
Não podemos esquecer do dono do jardim, afinal ele se livra de sua mais preciosa joia! Ele representa um 'oportunista' que não vê serventia no trabalho do jardineiro. De maneira desatenta e desumana, pois não estabelece relação com suas flores, com seu cuidador e não se dá conta do que realmente acontece em seu jardim...
O texto evidencia os tipos de relações que podemos estabelecer com o mundo. Pois, muitas vezes nos frustramos e nos decepcionamos com as reações inesperadas do outro (agressivas) diante de algo que fizemos (amorosamente) ou vice-versa. E sem falar do desprezo...

Lidar com estas surpresas, sem dúvida um exercício de tolerância!

Vanessa Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

quarta-feira, 20 de março de 2013

Pensamentos e Reflexões



SEM PRETENSÃO



Não tenho
A pretensão
De que todas
As pessoas que gosto,
Gostem de mim.

Nem que eu faça
A falta que elas fazem.
O importante para mim
É saber que eu,

Em algum momento,
Fui insubstituível...
E que esse momento será inesquecível!
Só quero que meu sentimento
Seja valorizado!

Quero um dia,
Poder dizer às
Pessoas que nada
Foi em vão
Que o amor existe
Que vale à pena se
Doar às amizades

Às pessoas...
Que a vida
É bela sim!
E que eu
Sempre dei o
Melhor de mim.
E que valeu à pena!
(Mario Quintana)


E pra você, está valendo à pena????
Se não estiver.....nunca é tarde!

Abraço
Roberta Marin Passos
Psicóloga - Lien Clínica e Assessoria

quarta-feira, 13 de março de 2013

Reflexões Psicanalíticas


Projetos existenciais ou Promessas de início de ano??!!







É muito comum se iniciar o ano prometendo-nos que mudaremos algumas coisas definitivamente. E isto, às vezes, realmente acontece: a relação amorosa moribunda, a atenção para a saúde, a mudança de emprego etc.

Há, contudo, uma frase conhecida popularmente que diz que ao longo da vida “Temos que plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro”. E o que fica nas reticências é: temos que fazer isso se quisermos ser bem sucedidos ou nos sentir completos.
Já pensou na ambigüidade e relatividade da palavra sucesso? Sucesso para quem? Sucesso de quem?
Ou na impossibilidade de alguém se sentir completo sob pena de não ter mais nada a alcançar? Completo como totalmente satisfeito? Que total é esse?

Apesar destes questionamentos é interessante pensarmos na trilogia árvore, livro, filho. O que penso de pronto é na importância de realizar ações perenes, ou seja, não efêmeras. E mais do que isso, será que poderíamos pensar nesses substantivos como sinônimos? O que a árvore, o livro e o filho têm em comum?
Longe de querer propor algum tipo de “pegadinha” ao querido leitor, penso que a árvore ou as plantas têm o sentido de vida, de crescimento, muito parecido ao sentido de filho. Um livro se escreve quando se acredita na transmissão de pensamentos e idéias que possam ajudar alguém. Às vezes, um livro pode se tornar um sopro de vida, implicar o crescimento pessoal de alguém.
Outra questão que me parece chave é a possibilidade de imortalidade que elas carregam. Ou seja, ao não suportarmos a ideia da morte como algo tão certeiro mas tão inimaginável para nós sujeitos, a árvore, o livro e o filho nos propiciam realizar, de alguma forma, nosso desejo inconsciente de imortalidade.

Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do Lien- Clínica e Assessoria


A vida é simples, nós é que complicamos....

Sherlock Holmes e seu inseparável companheiro Dr. Watson decidiram acampar, e assim que chegaram ao local combinado, montaram sua barraca e, depois de uma boa refeição, acompanhada de uma garrafa de vinho, cansados da viagem, deitaram-se para dormir.
Algumas horas depois, Holmes acorda e cutuca seu fiel amigo:
- Meu caro Watson, olhe para cima e diga-me o que vê.
Watson responde:
- Vejo milhares e milhares de estrelas.
Holmes então pergunta:
- E o que isso significa?
Watson pondera por alguns instantes, e responde:
- Astronomicamente, significa que há milhares e milhares de galáxias e, potencialmente, bilhões de planetas. Astrologicamente, observo que Saturno está em Leão e teremos um dia de sorte. Temporariamente, deduzo que são aproximadamente 03h15min pela altura em que se encontra a Estrela Polar. Teologicamente, posso ver que Deus é todo poderoso e somos pequenos e insignificantes. Meteorologicamente, suspeito que teremos um lindo dia amanhã. Correto?
Holmes fica em silêncio por alguns segundos, e então responde:
– Não Watson! Isso significa apenas que alguém roubou nossa barraca.
Existem muitas técnicas e metodologias para resolução de problemas, mas em qualquer uma delas, o primeiro passo é conseguir identificar o problema, e esta é uma das maiores dificuldades que enfrentamos. Algumas vezes por não querermos enfrentar os problemas de frente, e outras por darmos mais atenção às consequências do que às causas.

Abraço
Roberta Marin Passos
Psicóloga Clínica – Lien Clínica e Assessoria

segunda-feira, 11 de março de 2013

Cinema e Psicanálise



INDOMÁVEL SONHADORA

Diretor: Benh Zeitlin
EUA, 2012.

Sinopse:

Hushpuppy é uma menina de seis anos que vive com seu pai às margens de um rio, em uma comunidade pobre. Um dia, ele descobre que está muito doente e decide que não quer ajuda médica. Wink passa a ensinar à menina a sobreviver quando ele não estiver mais presente.
(Fonte: cineclick)

Comentários:

O que fazer diante de uma garotinha que conta nos dedos o número de vezes que foi pega no colo? E que enfrenta fantasticamente ‘animais ferozes’ para proteger quem ama e a si mesma de uma realidade que impõe uma condição extrema e vulnerável?
Estamos diante de um cenário caótico e imprevisível, regido pelas forças da natureza. O tempo todo se anuncia um desespero, uma agonia, um risco. E diante deste cenário acompanhamos a história peculiar de um pai e de sua filha, envolvendo afeto e desentendimento. São animais pré-históricos e catástrofes naturais que se aproximam e que poderiam expor a fragilidade humana, mas estamos diante de seres ‘indomáveis’ que não 'arredam pé’ e lutam para ficar. É uma tribo composta por esta pequena família e seus amigos num emolduramento primitivo e instintivo. Eles fogem de qualquer possibilidade de civilidade, tanto que causa estranhamento ver a garotinha de vestido e com o cabelo arrumado, pois não é a sua natureza.
Afinal, o que está em jogo é a sobrevivência, custe o que custar.

“A força não provém da capacidade física e sim de uma vontade indomável”.
(Mahatma Gandhi)


Fica a dica desta 'fábula' quase desconcertante!

Vanessa Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

terça-feira, 5 de março de 2013

Pensamentos e reflexões

Vamos falar do tempo??!!







Quem não ouviu ou iniciou algum tipo de conversa com comentários como:

-Que dia lindo hoje, não? Está nublado, dizem que vai chover! Está prevista uma frente fria, o tempo vai virar... Que calor insuportável! Este tempo não muda, não agüento mais!!

Ou

- O tempo passa tão rápido! Que horas são??...já!! Estou nessa fila há horas, tenho muitas coisas para fazer! Tempo é dinheiro??! Desculpe pelo atraso, mas... Espera!

No elevador, na parada de ônibus, em uma festa, na fila do banco etc. é comum se referir ao clima ou às horas que passam... enfim, ao tempo.
Muitas vezes, estes comentários servem para quebrar o silêncio, o embaraço frente a um outro pouco conhecido, iniciar uma conversa difícil, “passar o tempo” ou mesmo, para fugir do que realmente se quer dizer, omitindo algo importante, distraindo o outro. Às vezes, falar do clima é “como conversa mole para o boi dormir”... Em outras oportunidades sem perceber estamos falando de coisas importantes, até íntimas mas de forma figurada, como se o falar do clima-tempo fosse falar de nosso tempo interior, das nossas sensações, dos nossos medos...É muitas vezes é isso mesmo...!

O interessante é que o tempo, apesar de povoar nosso cotidiano não é qualquer assunto, nem algo banal. Se pensarmos em termos mais existenciais, o tempo é um grande enigma para nós, afinal: Por que às vezes ele parece infinito ou tão rápido como um segundo? Por que ele organiza e dá nome aos momentos da nossa vida como passado, presente e futuro? Por que ele pode ser tão relevante quando uma porta se fecha, quando o trem partiu, quando foi tarde demais!!
Os dias e as noites, as estações do ano, os eventos climáticos, o calendário, o relógio etc. apontam para algo que começa e termina. E principalmente para a vida e a morte; o nosso corpo tem as marcas do tempo, do nosso envelhecimento, elemento angustiante que nos remete o tempo todo à nossa perenidade, à morte.
Talvez por isso ele esteja tão presente nas nossas falas, mesmo naquelas que parecem tão banais!


Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do LIEN- Clínica e Assessoria

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Cinema e Psicanálise




Minhas Tardes com Margueritte








• Lançamento (2h 2min)
• Dirigido por Jean Becker
• Com Gérard Depardieu, Gisèle Casadesus, Jean-François Stévenin mais
• Gênero Comédia , Drama
• Nacionalidade França



Sinopse:

Uma história sobre os encontros inesperados da vida. Germain (Gérard Depardieu) é um iletrado e solitário homem. Para preencher suas tardes, ele faz amizade com a senhora Margueritte (Gisèle Casadesus).

Comentários:

Filme extremamente interessante que aborda a questão das diferenças de um ponto de vista original. A amizade que surge entre as duas personagens Germain e Margueritte aparece de cara como algo impossível, tanto pela idade quanto pela diferença cultural existente entre eles. No entanto, os encontros singelos no banco de uma praça se transformam em momentos prazerosos para ambos. Por um lado, Germain aprende a ter gosto pela leitura, abrindo seus horizontes e passando a se considerar como alguém pensante que tem opiniões. Por outro, Margueritte encontra alguém que a admira e a valoriza, reeditando a possibilidade de repensar a vida e suas crenças.

Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga

Pensamentos e Reflexões



Recomeçar
Não importa onde você parou...
Em que momento da vida você cansou...
O que importa é que sempre é possível recomeçar.

Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...
É renovar as esperanças na vida e, o mais importante...
Acreditar em você de novo.

Sofreu muito neste período? Foi aprendizado...
Chorou muito? Foi limpeza da alma...
Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las um dia...
Acreditou que tudo estava perdido? Era o início da tua melhora...
Onde você quer chegar? Ir alto? Sonhe alto...
Queira o melhor do melhor...
Se pensarmos pequeno... Coisas pequenas teremos...
Mas se desejarmos fortemente o melhor e, principalmente, lutarmos pelo melhor...
O melhor vai se instalar em nossa vida.

E é hoje o dia da faxina mental... joga fora tudo que te prende ao passado... e toda aquela tranqueira que você guarda... jogue tudo fora... mas principalmente...esvazie seu coração... e fique pronto pra VIDA!
"Porque eu sou do tamanho daquilo que sinto, que vejo e que faço, não do tamanho que os outros me enxergam".
(Carlos Drummond Andrade)

Boa faxina!!!

Grande abraço
Roberta Marin Passos
Psicóloga – Lien Clínica e Assessoria

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013



CIÚME – O INFERNO DO AMOR POSSESSIVO (L ´ENFER)

Direção: Claude Chabrol (França, 1994)

"Emmanuelle Béart, ótima e bela atriz e François Cluzet, em perfeita caracterização, fazem o casal que trilha a conhecida trajetória da alegria e juventude, casamento, filho, quando de repente se defrontam com um inimigo poderoso e milenar: o ciúme. O título deste filme de 1994 em francês é “L´enfer” e em inglês “Hell”, que significam o mesmo: “Inferno”. E esse deveria ser o título também em português, porque o filme mostra exatamente isso: com tintas bastantes reais, o horror de um relacionamento em que o ciúme se torna uma obsessão, uma paranoia. Com a habilidade do diretor e também roteirista Claude Chabrol, os fatos vão se sucedendo dramaticamente, sendo muitas vezes misturadas as cores reais com as imaginárias (no espectador há inclusive instantes de hesitação…). A degradação física e psicológica do casal nos choca e pode provocar a identificação daqueles que já foram reféns de sentimentos semelhantes. Mas nem por isso o impacto é menor. Ao término do filme, uma surpresa inteligente no lugar do habitual The end".

(Fonte: www.dicasdecinema.net)

Comentários:

O ciúme talvez seja um dos sentimentos mais comuns nas relações amorosas. Muitas vezes utilizado como prova de amor, como tempero das relações e frequentemente causador de brigas, desconfianças e embates emocionais. Sem ele parece que há indiferença e desapego. Na arte da sedução e da conquista, o ciúme pode ser tolerável e até admirado. Pode provocar estragos dependendo de sua intensidade, colocando em risco a relação, sendo perigoso e até fatal. Vai além da esfera romântica para as relações familiares, sociais e profissionais. Norteia o campo da exclusividade, fidelidade, suspeita e traição e faz parte do cotidiano.

Pensando na dinâmica amorosa do casal o ‘funcionamento ciumento’ faz com que o outro atue. Com a passagem do tempo e com as marcas que gera no outro objetivamente e subjetivamente. Pode ser um prazer associado ao sofrimento do outro. O ciumento fica no lugar do excluído diante do ‘enciumante’. O ciúme se relaciona a vínculo, laço e a existência de um terceiro estrangeiro, a um não pertencimento. Pela escolha ou desconfiança do outro, há um lugar privilegiado para este terceiro, como um fantasma circulando na relação a dois.

A intervenção terapêutica pode estimular um trabalho vincular, construindo e reconstruindo o tempo todo, necessário para o entendimento e amadurecimento do casal.

Se o ciúmes permanece, ele não aumenta o amor, pois é desamor, pela sede de exclusividade do outro como posse. É necessário aceitar o outro com vida própria.
O ciumento inclusive pode ser um traidor em potencial.

Sentimento pouco construtivo, que tem herança na inveja.

Ciúme vem do Latim Zelumen,de Zelus (desejo amoroso, ciúme, emulação) e do Grego Zelos (zelo, ardor, ciúme).

Fica a dica deste filme que provavelmente é um dos mais representativos sobre o tema!

Vanessa Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Cinema e Psicanálise



‘Denzel Washington interpreta piloto alcoólatra no filme "O Voo"

'Um voo matinal de Orlando para Atlanta poderia ser mais um dos vários que o capitão Whip Whitaker (Denzel Washington) precisa realizar em poucos dias. E assim ele o trata ao ir trabalhar após cheirar uma carreira de cocaína por ter passado mais uma noite bebendo. Ao contrário do que se esperava, esse não é mais um dia rotineiro.
Em "O Voo", dirigido por Robert Zemeckis (da trilogia "De Volta para o Futuro"), Whip fantasticamente salva a tripulação de um malfadado avião prestes a explodir em pleno ar. Seis morrem, muitos se machucam, mas, se não fosse à aterrissagem do piloto, seriam mais de uma centena de funerais.
No longa que estreou na sexta-feira (dia 8/2), o homem prontamente tratado como herói logo se encerra em seu grande pesadelo e nele afunda. "O Voo" é, na verdade, um retrato da vilania de algumas garrafas de vodca. Ao som de clássicos do rock, é no abismo do próprio alcoolismo que Whip desce após um exame acusar as substâncias em seu sangue e ele ser importunado por mensagens cristãs, pela imprensa e por advogados. Mais do que um filme sobre um acidente e longe da emoção das vidas que foram salvas e da teoria do destino imposto por Deus, "O Voo" é comandado pela urgência de uma outra sobrevivência, da qual Whip passa a maior parte dos 140 minutos bem longe’.

(Fonte: guia.folha.uol.com.br de 10/02/13)

Comentários:

O filme mostra a recusa do protagonista em assumir sua condição diante do alcoolismo. Ao mesmo tempo revela sua vulnerabilidade colocando-o sempre à prova em situações que propiciam uma bebedeira. Mas, com ironia e boas doses de humor contemplamos muitas situações de abuso de substâncias químicas. Há a evidência da fragilidade humana diante do vício, mas também há possibilidade de mudança. O protagonista passa por uma significativa transformação, entre negação e reconhecimento, com questões existências que vem à tona.

Pensando à respeito da sociedade de consumo, o protagonista interpretado por Denzel nos dá de bandeja características de um 'consumidor patológico'. O ato de ‘consumir’ como de busca da felicidade imediata, a droga como um substituto de um certo mal estar, como vivência de satisfação. As adicções constituem o sujeito, que sempre busca um objeto perdido (ou desejado). A vida nestes casos torna-se suportável pelo ato de drogar-se. Que dor psíquica o sujeito se agarra na toxicomania para ser um? Com que adições o cotidiano é possível? Nós não renunciamos a nada, substituímos (a droga como substituto, como experiência primordial de satisfação absoluta para suportar o relativo que a vida impõe).

Que laço social o sujeito pode estabelecer com esta droga?

É uma solução para a dor da existência, mesmo que de morte...?

Seja feliz, consuma?


Fica a dica deste polêmico filme para reflexão!


Vanessa Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Pensamentos e Reflexões


O Papel de Cada Um – Família” X “Escola


Quem deve educar – os pais ou a escola?

Com a evolução dos tempos e as novas atribuições, podemos perceber que tanto a escola quanto os pais se perderam em suas funções, as responsabilidades sobre a formação de valores e o desenvolvimento de bons hábitos, são hoje terreno de tensão entre pais e professores.
A conhecida “educação de berço” está prejudicada pela rotina das novas famílias, os pais trabalham e falta tempo para o acompanhamento da vida dos filhos.
E quem fica com essas crianças enquanto os pais estão no trabalho?
A escola precisou se adaptar às novas necessidades das famílias e agregou à suas funções o acolhimento das crianças.
Surgiu o período integral e a escola passou a ser o segundo lar da criança, que às vezes passa mais tempo lá do que em casa; mais tempo com os educadores do que com os pais.
Essa falta de tempo concreta, bem como a culpa por ficar longe do filho, gerou modalidades mais permissivas na educação.
Isso gerou reflexos para todos os envolvidos.
A consequência do modelo atual foi uma perda dos limites de ação de cada um. A família não se apropria da função de formar o ser humano capaz de viver em sociedade, lançando mão de seus valores e hábitos socialmente aceitos e a escola não consegue cobrar essa responsabilidade do aluno, pois o mesmo não se coloca como parte desta engrenagem, não assume seu lugar!


O desafio é fazer com que família e escola revejam suas ações e se complementem.
Uma boa medida é definir o que cabe à escola e o que cabe à família.
A política do - EU PAGO, EU POSSO – transforma a escola em refém de uma sociedade confusa e prisioneira em si.

Um abraço
Roberta Marin Passos
Psicóloga – Lien Clínica e Assessoria

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Reflexões Psicanalíticas


A um ausente
Carlos Drummond de Andrade


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Dizem que a morte é a única certeza da vida e mesmo assim quando acontece não estamos preparados para ela. Por doença ou acidentes, ela dilacera quem fica.
Especialistas listam 5 momentos neste período: raiva, negação, negociação, depressão e aceitação.
O luto é uma experiência pessoal e única. Fato também é a necessidade de passar por este triste período, nele podemos reencontrar o sentido perdido e continuar, apesar da perda. Chorar é uma maneira natural de aliviar a tensão interna e permite que seja comunicada a necessidade de ser confortado.
O tempo......não se tem como prever, mas continua sendo o melhor remédio para essa grande dor.
Grande abraço
Roberta Marin Passos
Psicóloga – Lien Clínica e Assessoria