quarta-feira, 27 de junho de 2012

Infância e Educação


Preconceito, Discriminação e Conflitos nas escolas: o bullying realmente  existe?

Nunca se falou tanto sobre preconceitos, discriminação, conflitos e bullying, e muitos se perguntam por quê. Seria isto um fenômeno atual? As crianças podem se tornar preconceituosas e discriminar colegas, professores, irmãos etc. chegando até o chamado bullying? Qualquer tipo de conflito pode ser considerado bullying?

Para tentar pensar sobre esta questão é necessário definir cada termo. Preconceito é uma ideia anterior a qualquer conhecimento efetivo sobre pessoas, situações, assuntos etc. Geralmente é fruto de ideias do senso comum que se estendem e generalizam a todo um grupo específico: seja uma nacionalidade, uma característica como idade, sexo, profissão, uma doença etc.. Discriminação envolve ações contra grupos considerados doentes, problemáticos, não dignos, estranhos, diferentes, significando exclusão, isolamento, separação. Bullying provem de uma palavra inglesa que significa brigão, tirano, agressivo. Aquele que exerce ou sofre bullying passa por situações constrangedoras, dolorosas que implicam intimidação, medo, perseguição, isolamento, humilhação, agressão e até violência física.
As causas para estas questões são complexas e dependem de uma série de fatores. Problemas políticos, sociais, econômicos, características psíquicas particulares fazem parte desta grave situação.

Na nossa sociedade, a dificuldade para conviver com as diferenças, apesar de cada vez mais discutida, tem mostrado que atinge até mesmo as crianças.
Uma sociedade onde a competição, a rapidez, a esperteza, a novidade e o sucesso são valorizados intensamente pode apresentar como sintoma social uma rivalidade excessiva onde os espaços se disputam, às vezes, com violência. Brigas no trânsito, bom desempenho escolar, competições esportivas, consumo exagerado, ideais de beleza, magreza e moda, problemas econômicos, exclusão social, direitos cidadãos sistematicamente negados, poucos momentos coletivos fazem com que o outro seja visto como alguém que ameaça. Ou seja, ao exigir-nos demasiadamente construímos relações onde a insatisfação torna-se uma marca forte pela dificuldade em alcançar esses ideais.

Frente a tanta exigência e busca pela perfeição nos sentimos impotentes, fracassados, excessivamente criticados e é justamente essa impotência que pode levar a discriminação: assim, é o outro que falha, não eu.

A impossibilidade, o limite, a renúncia, a proibição são deixados para trás como algo mal visto, principalmente, por alguns adultos. As crianças aprendem a valorizar aquilo que é mostrado para elas como muito importante, tornando-se, assim, a competição, a prepotência e a arrogância algo a ser alcançado a qualquer custo.
Desta maneira, o outro “fraco”, “diferente”, “esquisito” se torna assim um espelho de nós mesmos, dos nossos limites. Por isso, inconscientemente preciso discriminá-lo, desmerecê-lo para não ver a própria falha.
A crítica, a reflexão e a discussão dos valores veiculados pela nossa sociedade se tornam assim elementos fundamentais para que a violência não se instale nas escolas e nas famílias, assim como também, ações coletivas, onde a ética e a solidariedade sejam as marcas principais. Os conflitos fazem parte das relações humanas, mas eles precisam ficar em um certo contorno aceitável. Já que quando a violência se instaura situações muito difíceis podem ocorrer, para as quais pode ser necessária a ajuda de um profissional.

Nem tudo é bullying! Um alerta contra alguns exageros...

Situações como estas, se bem podem acontecer, não são as mais comuns.  Geralmente, as escolas conseguem trabalhar com os alunos para que esta situação-limite não aconteça promovendo discussões, experiências, reflexões, sanções etc.
Precisamos, então, estar alertas para não achar que conflitos são necessariamente sinais de discriminação ou bullying. Crianças brigam, discutem, rivalizam, disputam cotidianamente. A convivência entre pares não é harmoniosa como se pensa, ela é geradora de conflitos e são justamente estas situações desafiadoras que constituem o ser humano. Brincar, dividir, conhecer outros jeitos de pensar, agir e ser vão, ao mesmo tempo, delineando igualdades e diferenças entre as pessoas, sem que a diversidade seja, obrigatoriamente, ameaçadora. Ao contrário, o controle e a repressão excessivos impedem as disputas saudáveis; a convivência propicia a construção de limites, a possibilidade de troca, escolha, negociação e cooperação. Para a criança este espaço é fundamental porque assim ela precisará se defender sozinha, encontrando formas próprias de resolver os conflitos que fazem parte do dia-a-dia. Paralelamente, somente conhecendo o outro posso construir empatia, me colocar de alguma forma no lugar dele e imaginar o que sente; assim, posso ver os efeitos das minhas raivas, ofensas, palavras e gestos, escutando o que ele tem a dizer sobre minhas atitudes. Isto é fundamental e necessário.

Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do LIEN Clínica e Assessoria

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Cinema e Psicanálise

Filme: Shame  


Diretor: Steve McQueen
Reino Unido (2011)

Sinopse e detalhes:

“Brandon (Michael Fassbender) é um cara bem sucedido que mora sozinho em Nova York. Seus problemas de relacionamento, aparentemente, são resolvidos durante a prática do sexo, tendo em vista que é um amante incontrolável. Contudo, sua rotina de viciado em sexo acaba sendo profundamente abalada quando sua irmã Sissy (Carey Mulligan) aparece de surpresa e pretende morar com ele. O atraente protagonista, é um eremita afetivo que, sintonizado à solidão digital dos chats eróticos, descarta relacionamentos por não acreditar na dedicação exclusiva a outro corpo que não seja o seu. Aplaca seu apetite torrando fortunas com garotas de programa, com pornografia e flertando com mulheres em bares. 
É um filme que trata da questão contemporânea sobre excessos e sobre o vazio afetivo das novas gerações”*.

Comentários:

O filme aborda um tema polêmico, que coloca o personagem diante de uma disfunção que afeta sua vida sexual. O personagem depende do sexo e fica claro que não se está diante de uma escolha, nem de um desejo, mas sim de uma necessidade, como todo vício. A compulsão aqui se apresenta da forma mais instintiva, onde o personagem faz de tudo o tempo todo para aplacar seu vício. A atividade sexual passa a dominar a vida e traz prejuízos. Perde o controle do impulso sexual, com a necessidade constante de buscar sexo e vira dependente. A compulsão leva a atividade sexual não ao que se quer ter, mas o que precisa se ter. Não há liberdade de escolha, mas sim necessidade. Como fica o desejo diante disto? O sexo deixa de ser prazeroso para ser um ato repetitivo, compulsivo, para aplacar uma ansiedade. E a repetição que se sucede, pois depois de suas relações o compulsivo não se satisfaz, percebe que seu desejo não foi aplacado, fica diante de um vazio, muitas vezes da depressão, retomando sua busca frenética e angustiante por outros parceiros. O que entra em jogo e se evidencia é a necessidade de seduzir, conquistar, onde a promiscuidade impera, muitas vezes sem levar em conta a prevenção sexual.



Vanessa M. da Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

(*Fontes: O Globo, Adorocinema).