“Os diferentes são todos doentes?”
Coloco aqui à disposição do leitor mais um texto para reflexão.
No artigo “Os diferentes são todos doentes?” Calligaris começa discutindo a questão da classificação imposta pela nossa sociedade entre normalidade e anormalidade.
Sabemos que toda sociedade estabelece um conjunto de normas, práticas e valores nos quais se apoiar; até aí nada novo, embora saibamos das atrocidades que foram cometidas em nome disto: perseguições, extermínios, fogueiras, explorações, escravidao etc.
O interessante é que todos nós questionamos, em algum grau, estes padrões impostos através dos quais aquele que não se adapta é taxado de anormal. E aqui o autor se refere às diferenças sexuais, étnicas, religiosas, sociais etc. O paradoxo é que apesar de questionarmos este rígido padrão, muitas vezes, nos valemos dele nas nossas interrogações sobre a nossa condição humana.
Ou seja, se por um lado lamentamos que ainda hoje se conviva, em algum grau, com estas práticas discriminatórias - pese a legislaçao e a chamada civilização democrática que advoga direitos humanos -, posições mais sutis têm surgido. São as que consideram a diferença uma doença que precisa de cura. E para isto há sempre um “médico” de plantão e um remédio para este “mal”.
A partir disto, a relação com o outro “diferente” passa a ser mediada pela idéia de que ele possua alguma patologia genética, neurológica, psíquica, etc. Em outras palavras, não há lugar para a diferença, já que ela precisa ser “curada”. O sujeito “diferente” passaria por uma “transição” até que pudesse eliminar a doença e alcançar a cura.
Cabe se perguntar que doença é essa que no fundo tem a ver com a puralidade e a diversidade humanas, já que não existe ninguém igual. E mais do que isso, será que vai existir alguém isento, alguém “são”?
Será que a globalização também imporá um padrão psíquico aos seres humanos?
Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do LIEN Clínica e Assessoria.