Ângulo Diferente
No pequeno texto a seguir vê-se refletida uma cena curiosa.Uma pessoa observa outra lendo um livro de "cabeça para baixo" e a questiona por isso.Os comentários de ambos se prestam a várias reflexões.
No pequeno texto a seguir vê-se refletida uma cena curiosa.Uma pessoa observa outra lendo um livro de "cabeça para baixo" e a questiona por isso.Os comentários de ambos se prestam a várias reflexões.
Uma possível reflexão diz respeito ao nosso olhar particular, até etnocêntrico sobre as ações e pensamentos do outro, olhar através do qual, o que o outro faz é, muitas vezes, criticado. Isto ocorre porque a nossa análise parte da nossa escala de valores que desconsidera ou desvaloriza a do outro. Sair da posição de "centro do mundo" é um longo e penoso trabalho subjetivo. Lidar com nossas frustrações e impossibilidades torna-se fundamental.
Neste sentido, realizar um trabalho terapêutico, empreender uma análise pode contribuir, e muito, a esse deslocamento do olhar.
Uma outra reflexão mais específica diz respeito a aspectos mais educacionais, à maneira pelo qual o outro aprende. Muitas vezes os educadores acreditam que exista apenas uma forma do aluno aprender e, frente à dificuldade da criança, consideram que ele nunca poderá aprender, que não tem capacidade. Nestes casos, um olhar psicopedagógico pode ajudar, tanto professor, como aluno a ver mais além do aparente "fracasso", conhecendo as habilidades escondidas do aluno.
Ou seja, ver o outro e a si mesmo desde outro ângulo, como o texto nos revela.
Um abraço,
Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do LIEN Clínica e Assessoria
http://catherinedejupiter.files.wordpress.com/2010/11/joaquin_torres_garcia_-_america_invertida.jpg?w=319&h=337
"Um homem yemenita, refinado e de boa aparência, sentou-se ao meu lado [num trem] e lia um livro de cabeça para baixo. Virava as páginas muito interessado no livro. Pensei que era louco. Não conformado, perguntei-lhe se podia ler. Ele me respondeu: “Não vê que estou lendo?”. “Como pode ler um livro de cabeça para baixo?”, perguntei-lhe. Ao que ele respondeu: “Como de cabeça para baixo, qual é o lado de cima?”. Pensei que estava falando com alguém que tinha vindo de Marte. Ele percebeu que eu estava confuso e começou a rir. “Nós, yemenitas, vivemos no deserto e possuímos só uma Bíblia na cidade, todas as crianças aprendem a ler sentadas em volta do professor. O professor segura o livro e mostra:bereshit bara Elohim, no começo Deus criou... Cada um de nós sentados em volta vemos o livro de um ângulo diferente, e assim aprendemos a ler em muitos ângulos. Para nós, não existe para cima ou para baixo, aliás para lado nenhum. Vocês europeus é que são loucos, porque só podem ler um livro de um lado só, [...] de uma única maneira.”
(Moshe Feldenkrais, do livro Vida e Movimento)
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