terça-feira, 15 de maio de 2012

Cinema e Psicanálise

O Estranho em Mim
(Das Fremde in Mir, 2008), da cineasta alemã Emily Atef.



Sinopse:
O filme conta a história de um jovem casal apaixonado, que espera seu primeiro filho. O mundo deles parece perfeito quando a mãe dá à luz um menino saudável.
Ao contrário do amor incondicional que esperava sentir, ela fica desesperada e impotente. Incapaz de admitir seus sentimentos, a mãe tem um ataque nervoso e é encaminhada para uma clínica. (Fonte: Bol notícias).


Comentários:
Filme sobre a depressão pós-parto, onde o espectador acompanha os sentimentos conflitantes da protagonista diante da maternidade. Cenas marcantes envolvendo esquecimentos, pensamentos hostis e destrutivos, e onde a mãe aos poucos também se afasta do pai do seu bebê. Após um ataque de nervos ela é internada e aí nos deparamos com a reação da família e todo o preconceito com a condição de rejeição materna, inadmissível para muitos. A segunda parte do filme trata do lento processo de cura, mas é profundo o esforço desta mãe em se vincular afetivamente ao seu bebê. Interessante acompanhar a descrença da família e a ausência emocional do marido que tem aí sua segunda chance. É como lidar com a abstinência de um dependente químico, e através do processo de cura ver as reações adversas de seus co-dependentes. A protagonista não encontra muito apoio e tem que lidar com a desconfiança de todos e lutar pelo seu direito de ser mãe novamente. Filme sem melodramas, mas com esperança, já que mostra o embate de uma mulher com sua condição materna. 



Considerações sobre a depressão pós-parto:
A maternidade é sempre associada à felicidade plena, mas isto nem sempre acontece. Pesquisadores indicam que cerca de 20% das mulheres sofrem perturbações como depressão e ansiedade durante a gravidez e no pós-parto. Sabemos da importância das primeiras relações mãe-bebê e de suas profundas inquietações, bem como das forças atuantes na constituição do psiquismo infantil. Para a Psicanálise, a depressão pós-parto pode ser descrita como consequência do retorno a si mesma, fruto da regressão da mãe (conteúdos e conflitos inconscientes relativos a experiências e fantasias infantis), de como a menina se torna mulher e qual o impacto da maternidade para o psiquismo feminino. Importante destacar a psicopatologia do bebê decorrente do desencontro da dupla mãe-bebê e seus efeitos. A neurociência confirma a importância da interação mãe-bebê, das relações iniciais para o pleno desenvolvimento emocional e físico do bebê. Na gestação acontecem mudanças significativas na vida de uma mulher. Uma delas é deixar o papel de filha para assumir a maternidade, o que implica em uma revivência da infância, na qual o desejo de ser mãe manifesta-se, como, por exemplo, nas brincadeiras de bonecas. Pode-se considerar que na relação mãe-filho repete-se de algum modo a relação infantil com a própria mãe. Com o parto quebra-se a imagem idealizada do bebê, ao mesmo tempo em que este torna-se  um ser independente da mãe. Neste momento a mãe ressignificará a experiência da maternidade. Não podemos desconsiderar as mudanças hormonais, a dor física com o parto, as implicações na adaptação e envolvimento da mulher com os cuidados com a criança e todo o investimento emocional. A importância do apoio da família e da função paterna, através de um pai e marido que ofereça suporte emocional tanto à mãe quanto ao filho. E de como a Psicologia e a Psicanálise podem contribuir para a Pediatria, diante destas considerações.


Vanessa M. da Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

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