terça-feira, 1 de maio de 2012

Reflexões Psicanalíticas


TERAPIA FACEBOOK


No artigo, TERAPIA FACEBOOK, Sérgio Telles analisa o impacto que tem tido as redes sociais na divulgação e esclarecimento das doenças. Todavia, ele nos adverte que doença e morte sempre foram e serão temas difíceis para a humanidade, ao revelar nossa finitude, impotência e desamparo. Como compreender este paradoxo?

O interessante é que, por um lado, nossa sociedade aposta, através da propaganda, no mascaramento da nossa finitude, oferecendo milhares de produtos que nos dão a ilusão de que nunca teremos problemas ou que determinado produto os resolverá, tais como: cosméticos que escondem nossas rugas, aparelhos de ginástica que nos devolvam a firmeza da juventude, alimentos super rápidos que aumentam nosso tempo, remédios que retardam a velhice e por aí vai... Por outro lado, nunca o ser humano tornou tão públicas as suas fragilidades, relatando em detalhes os percalços de um amor desfeito, de uma briga familiar ou de uma doença grave, como o câncer, por exemplo. Doença, como nos alerta Telles, que há pouco tempo atrás não era nem pronunciada, numa supersticiosa e obsessiva ideia de que assim, a pessoa ficaria imune.

O que aconteceu, então? O que significa essa exposição dos detalhes de uma doença como o câncer? As pessoas estariam mais humildes? Saberemos agora lidar melhor com os nossos limites?
Acredito que não necessariamente. O que o Facebook pode oferecer, e rapidamente, é uma palavra de solidariedade, um comentário esclarecedor, um conselho de algo que funcionou, o que pode ajudar a sentir-se menos só, um pouco mais confortados.

Porém, lidar com uma doença grave é muito difícil. Quando estamos doentes, apesar das palavras dos seres queridos, familiares, amigos e companheiros, sabemos que a doença é nossa, nós é que teremos de enfrentá-la, conviver com a rotina de hospitais e tratamentos, falar com médicos, ler sobre ela na internet ou em livros, participar de grupos de ajuda, ver a nossa vida impedida, limitada etc. Lidar com isto, mesmo quando se tem alto prognóstico de cura, é olhar, como em um espelho, uma face da morte.

O que ajuda na rede, então?
Telles novamente nos esclarece que a informação em massa permite a retirada do véu do tabu, e isto é sem dúvida importante. Uma parte dos preconceitos se dissolve com a informação... Falar sobre doenças graves seria como a revelação de um outro lado menos glamoroso do Facebook, sem belas fotos, viagens, belas músicas etc. Claro que existem exageros, e a mídia e a nossa curiosidade, às vezes, podem invadir perversamente a tão frágil intimidade do doente. Por isso, o bom senso e o respeito não podem ser esquecidos.

O lado a ser resgatado, é que, de alguma forma, no Facebook se fala “sobre”, e é nisto que aposta a Psicanálise, na possibilidade do sujeito falar de seus medos, limitações e angústias, sabendo que tem uma testemunha, o analista. Assim, falar é o primeiro passo para poder entender e elaborar o que nos faz sofrer.

Em tempo, o Facebook obviamente não é um analista, mas tem certo valor de testemunha. E isso pode ser fundamental para quem está doente. A força do coletivo, tão deixada de lado na nossa sociedade individualista reaparece de alguma forma na rede. Contudo, um alerta, nem todo mundo se sente bem ao ficar exposto, nem deseja falar publicamente sobre sua doença. Nestes casos, a solidariedade também deve significar respeito com o doente quando este não deseja falar e quer ficar só.

Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do LIEN- Clínica e assessoria

www.estadao.com.br/.../impresso,terapia-facebook,846949,0.htm 

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