quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Reflexões Psicanalíticas



OS SENTIMENTOS NA BERLINDA












Quando crianças, ouvimos que há sentimentos bons e maus. Esta visão maniqueísta do mundo acredita em sentimentos puros, não misturados, em um mundo dividido em bons e maus. Assim, se quisermos ser bons, os sentimentos maus deverão ser evitados, controlados, reprimidos e, sobre os quais, é melhor nem falar. Ciúmes, raiva, inveja, vingança, rancor, entre outros, teriam de ser extirpados da nossa vida.
Mas será que isto é possível? Existe alguém que já não tenha sentido com maior ou menos intensidade algum sentimento não tão “nobre”?
Freud dizia que sentimentos são conscientes e é importante que admitamos que nem sempre sentimos amor, admiração, solidariedade, paciência, respeito etc. Somos povoados por sensações contraditórias e passionais que, muitas vezes, nos pegam de surpresa e que custamos a admitir. O mais surpreendente é que podemos sentir isto pelas pessoas que amamos, como companheiros, filhos, pais, irmãos etc. A sensação é de confusão.
A grande questão não é o quê e como sentimos, senão, o que fazemos e o que faremos com aquilo que clama dentro de nós. Muitas vezes, temos vergonha de admitir para nós mesmos que situações corriqueiras podem nos provocar sentimentos inadmissíveis. Paralelamente, por vezes, nem ao menos sabemos o motivo real daquilo que sentimos; assim, tentamos racionalizar ou “purificar” sentimentos comuns a qualquer mortal.
Atrás de sentimentos, há representações, sentidos e motivações inconscientes que fazem com que possamos agir de forma desproporcional ou inusitada: ou seja, aquela lei da física que diz que, para cada ação há uma reação específica, não se pode aplicar univocamente aos seres humanos. Ainda bem!
Por isso, o importante é poder decidir o que faremos com aquilo que sentimos. Isto sim terá conseqüências para nós e para os outros. Mas cabe um alerta: o custo de negar aquilo que sentimos pode trazer efeitos complicados na nossa vida, já que pode nos levar a adoecer.


Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do LIEN Clínica e Assessoria

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