segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Cinema e Psicanálise


CAOS CALMO
(Reino Unido, Itália, 2008)
Direção: Antonello Grimaldi e Antonio Luigi Grimaldi
Sinopse:
Pietro Paladini (Nanni Moretti) é um executivo bem sucedido, que tem um casamento feliz e é pai de Claudia, de 10 anos. Após salvar uma mulher na praia, ele descobre ao chegar em casa que sua esposa morreu repentinamente. A partir de então ele precisa lidar com o caos emocional da perda da mulher, ao mesmo tempo em que precisa manter-se forte para ajudar e cuidar da filha.


O QUARTO DO FILHO
(Itália, França, 2001)
Direção: Nanni Moretti
Sinopse:
Giovanni (Nanni Moretti) é um psicanalista que reside e trabalha na cidade de Ancona, na Itália. Ele é casado com Paola e tem dois filhos: a menina Irene e o jovem Andrea. Sua vida transcorre tranquila, dividida entre a família e o consultório, até que uma tragédia a transtorna completamente. Para atender ao chamado urgente de um paciente, Giovanni deixa de acompanhar o filho à praia e nesse passeio o rapaz morre afogado. A família, é claro, ressente-se profundamente com a morte e Giovanni sofre uma forte sensação de remorso, apesar do apoio da esposa.

(Fonte:Adorocinema)

Comentários:

Os dois filmes falam sobre o Luto de forma nada apelativa. Nanni Moretti faz o papel do viúvo em “Caos Calmo” e do pai psicanalista que perde o filho adolescente em “O quarto do filho”. Como viúvo se dá conta que poderia ser um marido e pai mais presente e após a perda da esposa ele se instala e permanece quase todo o filme na praça em frente a escola da filha. Faz dali seu cotidiano, desprezando o escritório (sua empresa está em um processo de fusão) e preocupando-se com coisas corriqueiras no entorno desta praça, seu novo habitat. Há um processo de humanização quando ele se relaciona com as pessoas que convive ali. Acaba chamando a atenção de sua filha e de seus colegas de escola, além da professora e dos pais dos demais alunos. Ele não consegue ficar distante fisicamente de sua filha, mostrando sua fragilidade diante da perda de um ente querido. Na tentativa de dar conta desta ausência, ele se mostra demasiadamente presente, elaborando aos poucos seu processo de luto e redimindo sua culpa por não se considerar um marido e pai afetivo e presente na esfera familiar.


Em “O quarto do filho” a elaboração do luto deste pai e psicanalista é explorado ao longo do filme. Acompanhamos a tristeza pela perda do filho, sendo ele fruto de uma família extremamente afetiva. Uma das cenas mais comoventes é quando o pai com sua dor se fragiliza e como psicanalista se comove diante de seu paciente durante a sessão de análise. E sua tentativa em vão de desejar voltar atrás, já que fantasia que tudo poderia ser diferente se não tivesse abdicado de uma sessão com seu paciente para estar com o filho no dia de sua morte.

As duas histórias mostram os personagens lidando com sentimentos de impotência diante de suas perdas, desejando ter agido de outra forma, na tentativa de reverter o processo de luto. Diante disto, a sensação que fica é além do que se perdeu, mas de que não há mais nada a perder.


No trabalho de luto há o afeto normal, paralelo a melancolia. Não se considera como estado patológico, mesmo provocando comportamento anormal. Há um desligamento lento e doloroso da libido investida no objeto perdido. A realidade impõe a inexistência do objeto. O ego sob influência das satisfações narcísicas da vida, para não compartilhar o destino do objeto abolido, decide cortar seus elos com ele. No final do trabalho de luto a libido fica livre, pois a representação inconsciente do objeto é “abandonada” pela libido.

Termino com um trecho final do poema de W.H. Anden sobre o luto, recitado em outro filme: “Quatro casamentos e um Funeral”:

“...achava que o amor ia durar para sempre.Eu me enganei.
As estrelas não são necessárias agora.Desliguem todas.
Embrulhem a lua e desmanchem o sol.
Esvaziem o oceano e limpem a mata,
pois nada mais vale a pena”.


Vanessa M. da Ponte
Psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

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