FILME: A INVENÇÃO DE HUGO CABRET
Hugo (EUA , 2011 – 126 minutos)
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: John Logan, Brian Selznick (livro)
Elenco: Asa Butterfield, Ben Kingsley, Chloë Moretz, Sacha Baron Cohen, Helen McCrory, Christopher Lee, Michael Stuhlbarg, Emily Mortimer, Jude Law, Richard Griffiths, Frances de la Tour, Ray Winstone
Sinopse e detalhes
Hugo Cabret (Asa Butterfield) é um menino de 12 anos que vive escondido em uma estação de trem na Paris dos anos 30, onde cuida da manutenção de gigantescos relógios, função anteriormente exercida por seu tio desaparecido (Ray Winstone). À noite, usando peças de brinquedos que ele furta de uma loja da estação, o menino tenta consertar um autômato, única lembrança que herdou do pai, para desvendar um enigma. Seus planos, porém, correm perigo quando ele é descoberto pelo dono da loja e pela curiosa Isabelle (Chloë Grace Moretz).
Comentários:
O filme a primeira vista se apresenta como destinado ao público infantil, porém, à medida que a trama vai se desenrolando, vemos questionamentos preciosos que dizem respeito a todos nós. O filme diz tratar do mesmo material com quem são feitos os sonhos, ou seja: conflitos, desejos, pulsões, contradições, elaboração, narrativa, simbolização, imagens etc.
Neste sentido, uma questão importante que aparece é a das relações entre pais e filhos e o sentido das heranças enquanto legados simbólicos. Assim, vemos Hugo tentando insistentemente consertar um boneco autômato, sonho do seu pai falecido. E como se a cada peça que encontra, fosse construindo ele próprio um sentido para viver, apesar da sua solidão.
O guarda da estação vasculha incessantemente rastros de crianças que estejam sós para prendê-las e entregá-las à polícia que as levará ao orfanato. Notamos o defeito na perna, o que lhe provoca grande sofrimento e descobrimos que todo esse esforço tem como objetivo entender a criança órfã que ele próprio foi. O amor propicia o deslocamento desta tarefa dolorosa, fazendo com que decida se envolver afetivamente com uma florista.
Aos poucos, o sentido da vida como um legado a ser ofertado ganha força também na história do cineasta que abandona sua profissão após anos de sucesso, e se torna dono de uma loja de brinquedos. Aqui, o diretor faz uma referência sensível à importância da imaginação, da fantasia e do desejo como propulsores da vida, quando, através da fala do ex-cineasta explica que as pessoas após a grande guerra perderam o interesse pelas histórias, pelo cinema e pela fantasia porque “eles haviam visto realidade demais” (referindo-se aos horrores da guerra). Assim, mais do que consertar brinquedos, capturar meninos órfãos na estação de trem e recriar o autômato, cada um dos personagens precisará relembrar sua história, compreendê-la e inventar um novo sentido, novos sonhos.
Liliana Emparan
Psicanalista e Psicopedagoga do LIEN Clínica e Assessoria
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