segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Cinema e Psicanálise


A CRIANÇA (L’ENFANT)
Bélgica, 2005
Diretores: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne




Sinopse:

Sonia é uma jovem de 18 anos, que acabou de dar à luz a um menino. Bruno, o pai, com 20 anos de idade vive de pequenos roubos cometidos por ele e seus comparsas adolescentes. Os dois veem de maneira bem diferente o significado da chegada desta criança, sendo que os atos de Bruno em relação ao filho colocarão o casal diante de sérios dilemas sobre suas existências.



O GAROTO DA BICICLETA (LE GAMIN AU VÉLO)
Bélgica, França e Itália, 2011.
Diretores: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne




Sinopse:

Cyril Catoul tem 11 anos de idade e um objetivo: encontrar o pai, que o deixou em um orfanato. Por acaso ele conhece Samantha, a administradora de um salão de cabeleireiro, que permite que o garoto passe os fins de semana com ela. Entretanto, Cyril não consegue reconhecer o carinho com o qual é tratado por Samantha, graças à raiva que sente por ter sido abandonado pelo pai.

Comentários:

Estes dois filmes tem muito em comum: a direção dos premiados belgas, os irmãos Dardenne, que realizam filmes humanistas, sobre conflitos sociais. O tema é sobre a delinquência e a presença do ator belga Jérémie Renier fazendo o papel de pai “insuficiente” em ambos.

O premiado filme “A Criança” conta a história impactante de um pai de 20 anos (Jérémie) que vende o seu bebê em troca de um envelope de dinheiro. É um jovem delinquente que relaciona a vinda do bebê como uma oportunidade de lucrar, colocando o filho como objeto, ou seja, mercadoria. A partir da agonia da mãe diante da perda do seu bebê, o filme dá muitas reviravoltas, inclusive da intervenção da polícia (lei que interdita) fazendo com que o rapaz volte atrás e resgate o bebê. O filme comove por mostrar de forma realista e sem apelos morais a incapacidade de um homem em se relacionar de forma afetiva com seu filho. Há um desapego, frieza e oportunismo e o filme mostra através do título à verdadeira “criança” da história, o rapaz diante da sua “imaturidade” em amar.




O filme “O Garoto da Bicicleta” mostra a dura realidade de um menino de 11 anos que sofre pela rejeição paterna e que luta para ficar com o pai (Jérémie) que deixa claro que não o quer, que muda de endereço e que vende a sua bicicleta. Acompanhamos o desespero do garoto diante deste desamparo. Mas, ele encontra e elege Samantha como sua “tutora” e ela se comove diante do sofrimento deste garoto. Ela teria muitos motivos para desistir, afinal a convivência com Cyril não é nada fácil, pois ele testa seus limites e tolerância, ela inclusive abdica de seu parceiro, que não tolera a situação. Mas, Samantha representando a mãe suficientemente boa (que oferece suporte afetivo) consegue tirar o garoto da provável delinquência que ele beira. Um desfecho de esperança e compaixão.




Delinquência é desamparo, é privação.
Quando existe privação, existe comprometimento na organização psíquica. Se não existe um cuidador que dê conta das excitações da criança, em função de suas próprias angústias, a presença do outro se torna arrasadora e o psiquismo se constitui no desespero.
Para a Psicanálise o conceito de desamparo está no âmago de uma falha, no sentido de um cuidado precário oferecido pelo outro.
O desamparo infantil pode se desdobrar em desespero juvenil e nada pode intervir como mediação.


“A conduta antissocial é um grito de desespero para o sujeito que reivindica do social aquilo que lhe foi prometido”.
(Winnicott)



Vanessa M. da Ponte
Cinéfila e psicóloga do Lien Clínica e Assessoria

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